quarta-feira, 24 de agosto de 2022



24 DE AGOSTO DE 2022
CARPINEJAR

Nosso Hospital Pompéia

Eu nasci no Hospital Pompéia, em Caxias do Sul. A cada três caxienses, dois terão orgulhosamente o parto feito na instituição centenária da Avenida Júlio de Castilhos. Meu pai era promotor de Justiça na comarca, e tive a alegria de ser gringo.

O anúncio do fechamento próximo do setor materno-infantil só poderia me gerar angústia. É uma definição gravíssima que jamais deveria ser adotada de modo unilateral, ainda que envolva prestação de serviço.

Não há como fechar a porta sumariamente para a população. Não existe nem plano B para uma referência hospitalar que socorre 49 municípios e que tem 84% de atendimentos via SUS (ocorre um investimento de R$ 1,8 milhão mensais no Hospital Pompéia pela prefeitura de Caxias do Sul para cobrir os valores pagos pela tabela).

Se for um blefe para atrair a iniciativa privada, trata-se de uma postura um tanto equivocada. Saúde não é barganha. Se for um pedido de socorro, não é pelo pânico que se conquista o respeito, apenas perde-se a credibilidade e cria-se insegurança da informação na comunidade.

A serra gaúcha entrará em estado de calamidade pública. São 150 partos por mês que não terão nenhum lugar substituto para comportar a demanda. Estaremos regredindo para a manjedoura.

É um quadro que prejudica tanto quem está nascendo quanto quem tenta salvar vidas. Não é apenas a maternidade que será atingida com os cortes do orçamento, mas todas as áreas médicas, apertando ainda mais o gargalo de marcação de consultas.

Haverá a suspensão de 10 mil exames laboratoriais, redução no atendimento da traumatologia (1,4 mil cirurgias e 2,4 mil consultas), raio X (1.724 exames) e ultrassonografias (332 exames), além da diminuição de exames de eletroneuromiografia e anatomopatológicos e de consultas oncológicas.

Com certeza, qualquer pessoa da região será prejudicada de um jeito ou de outro. Ninguém ficará de fora. Famílias entrarão numa situação de risco, dependendo de longos deslocamentos para diagnósticos e tratamentos, quando o tempo da doença é precioso para a tomada de decisões. Dias são meses, meses são anos para aqueles que buscam a cura.

Hospital Pompéia se tornará uma emergência para casos de extrema emergência, a um passo da extinção. Com o exagero emocional que me cabe nesta hora, afirmo que tal decisão é uma doença.

CARPINEJAR

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