22 DE AGOSTO DE 2022
CÍNTIA MOSCOVICH
Famílias reais brasileiras
Com diferença de duas semanas, assisti a dois eventos que me trouxeram tanta, mas tanta alegria, que o resultado foi uma esperança transcendente, como se nosso futuro pudesse ser garantido por música e afetividade.
O primeiro deles, na tarde do dia 23 de julho, comemorou os 40 anos do lendário clube de jazz de dona Ivone Pacheco, o Take Five, e reuniu mais de 40 músicos que se sucederam no palco montado no mezanino da Casa de Cultura Mario Quintana. Foram horas e horas de música, maratona que incluiu do jazz à MPB, interpretada por artistas que se dispuseram a tocar e cantar de forma voluntária em homenagem à Dama do Jazz, que teve a ideia de, no porão de sua casa, reunir amigos para jam sessions.
Desde então (e ainda hoje), as sessões se tornaram muito concorridas e logo a novidade de um espaço em que a música corria solta, sem que nada fosse cobrado e coisa alguma, vendida, despertou o interesse. O endereço da casa foi mantido em segredo e só tinha, e tem, acesso ao clube os que a Grande Dama abençoasse, o que garantiu a frequência de grande parte dos representantes da cena cultural do Estado.
Dona Ivone, que está com 89 anos, não pôde acompanhar o evento, mas artistas e público recriaram o clima intimista do clube, tudo ciceroneado por Rosa Pacheco, filha de dona Ivone e que é uma espécie de curadora do Take Five, por sua irmã Santina e pelos sobrinhos, um alegre esforço em família para que a vontade e a realização da matriarca continue ativa e de pé.
O outro evento digno de nota foi a live comemorativa aos 80 anos de Caetano Veloso no palco da Cidade das Artes, no dia 7 agosto, espetáculo que foi transmitido pelo Globoplay e pelo canal Multishow. Com um projeto cênico de uma simplicidade comovente (apenas um arranjo de néon), Caetano tocou acompanhado dos filhos Moreno, Zeca e Tom, que são oficialmente sua banda (Moreno tocando prato fundo e sambando miudinho é das melhores coisas já vistas). Iniciando com Como Dois e Dois, Caetano relembrou antigos sucessos, sem deixar de incluir alguns mais recentes, como Meu Coco.
O show assumiu uma aura quase sobrenatural com a entrada em cena de Maria Bethânia, irmã de Caetano, e que compôs um quadro lindo - a jornalista Cláudia Laitano postou nas redes sociais uma foto dos dois irmãos com a legenda "Família real brasileira".
Os dois eventos, próximos um do outro, pautados pelos vínculos familiares e pelo respeito e máxima valorização à expressão artística, devem representar o melhor dos brasileiros. Só pode.
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