20 DE AGOSTO DE 2022
FLÁVIO TAVARES
A LEGALIDADE
O próximo 25 de agosto assinala os 61 anos da renúncia do presidente Jânio Quadros, seguida do golpe de Estado dos ministros militares que, por sua vez, foi derrotado pela audácia do então governador Leonel Brizola.
Participei do Movimento da Legalidade, no qual imprensa e rádio mobilizaram a população, impedindo a implantação de uma "ditadura constitucional". Foi a única vez na História em que se fez uma rebelião para cumprir a lei. Os rebeldes queriam apenas cumprir a Constituição e empossar o vice-presidente João Goulart. Votava-se, então, separado, e Jânio e Jango compunham chapas diferentes.
Na paranoia da Guerra Fria, os três ministros militares alegaram que o vice era "simpático ao comunismo", não podendo assumir, portanto, e empossaram o presidente da Câmara Federal. Brizola foi o único governador a resistir ao golpe, mobilizando a Brigada Militar e armando a população.
Sem imprensa e rádio, porém, o golpe não teria sido derrotado e se consumaria. A Rádio da Legalidade levou a palavra de Brizola ao trabalho e aos lares, num momento em que o radinho de pilha era inseparável das pessoas. As ordens do comando militar em Brasília eram criminosas - mandavam "bombardear o Palácio Piratini pelo ar" e enviaram a esquadra naval para entrar pela Lagoa dos Patos e despejar os canhões sobre Porto Alegre.
A insânia mudou a posição do Exército no Sul e levou seu comandante a apoiar a Legalidade. Na Base Aérea de Canoas, os sargentos desarmaram os aviões, impedindo o bombardeio do palácio. Brizola mandou afundar barcaças no canal que liga Rio Grande ao mar e avisou pelo rádio: "Entrem e irão a pique". A esquadra estacionou em Florianópolis.
No livro 1961 - O Golpe Derrotado detalho o Movimento da Legalidade e conto como a audácia de Brizola uniu o país na resistência ao golpe de Estado. Nesta terça-feira, 23 de agosto, às 19 horas, relato no plenário da Câmara Municipal como se defendeu a legalidade, hoje outra vez ameaçada.
Com a morte de Armindo Antônio Ranzolin não perdemos apenas o grande narrador desportivo que descrevia as jogadas como uma sinfonia. Nos anos que morei em Buenos Aires, participei do Gaúcha Atualidade, que ele comandava no rádio, e conheci o jornalista vigilante que sabe que não há isenção frente ao crime.
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