sábado, 20 de agosto de 2022


20 DE AGOSTO DE 2022
BRUNA LOMBARDI

TODOS AMAM UM GORDO

Para quem se paralisa diante das crenças limitantes ou se deixa levar pela autocrítica, por aquilo que os outros dizem ou pelo que imagina que os outros pensem, precisa lembrar da trajetória de Jô Soares. Um ícone brasileiro, uma explosão de talento, um amigo querido de tanta gente. E, entre centenas de outras qualidades: um gordo. Que fez disso sua marca registrada e nunca deixou que essa característica o impedisse de ser e fazer tudo o que queria.

Aprendeu a brincar sobre isso e nos deliciava com seu humor em cenas memoráveis. Enumerou todos os perrengues reais de um gordo, com a imensa qualidade de saber rir de si mesmo nas piores situações. Banheiro de avião, por exemplo: fez disso um sketch hilário, com o qual mesmo os magros podiam se identificar.

Tá certo que estamos falando de um gênio, mas também de um ótimo exemplo de quebrar paradigmas e não se deixar impor limites que não são verdadeiros. Jô, sem dúvida, abriu caminho para muita gente e fez as pessoas pensarem mais nas diferenças. A palavra "gordofobia" não era ainda tão difundida, mas ele a superou logo de cara e deu o troco: todos amam um homem gordo.

Hoje tantas mulheres mostram seus corpos com beleza e sensualidade baseadas no refrão: "Todos amam uma mulher gorda? quando ela se ama". Acredito que isso sirva para tudo. É na aceitação do que somos e na nossa interação com o mundo que vencemos barreiras. Superamos falsas ideias impostas pela chamada ditadura da moda ou dos modismos, sempre superficial e passageira, não levando em conta a diversidade, a individualidade e a beleza de cada um.

Corpos têm infinitos formatos, não existe um igual ao outro. Quando uma sociedade tenta impor um padrão, imediatamente cria uma sucessão de frustrações, uma avalanche de falta de autoestima, um terrível encolhimento de potenciais humanos. Deixamos de ser tudo o que podemos. Comprimimos a nossa alma sufocada e escondemos o nosso corpo.

Inventamos a estupidez da vergonha da nossa natureza ou do nosso momento. Vergonha e desprezo de uma parte do nosso físico, uma dor inútil. Um sentimento que mina nossa felicidade, nossa posição na vida, nosso desenvolvimento. Drena nossa energia e cria um círculo vicioso que se alimenta dos efeitos tóxicos que nós mesmos nos causamos.

Jô sabia dançar e era leve em seus movimentos. Usava roupas coloridas quando muitos homens não as ousavam, não precisava provar nada para ninguém, a não ser para si mesmo.

Existem dificuldades na vida de cada um, fatos que são batalhas diárias, e assim seguimos. Cuidar do peso e da alimentação faz parte do cuidado com a saúde, do equilíbrio, da harmonia. Gostar de si mesmo é a base da nossa saúde emocional.

Estar bem consigo mesmo é uma prova de amor à vida. De gratidão à natureza. Jô Soares entrava em todas as casas e fazia parte de todas as famílias. Era inteligente, culto, vibrante e todo mundo se orgulhava dessa amizade íntima, mesmo sem nunca o conhecer pessoalmente.

Seus bordões são repetidos nas conversas, e foi seu exemplo de comportamento que disse a todos: seja o que você é.

BRUNA LOMBARDI

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