terça-feira, 30 de agosto de 2022

SOCIEDADE DOS POETAS MORTOS: A EDUCAÇÃO COMO LIBERTAÇÃO

Sílvia Marques

Eu, particularmente, fico com o professor e sua pedagogia afetiva e criativa que desconsidera métodos fechados. Eu fico com a poesia. Com a arte. Com o amor. Com a irreverência inteligente e criativa. Eu rasgaria com gosto aquelas páginas ridículas e inúteis que "ensinam" a mensurar a beleza e a emoção. Eu fico com o direito que cada um deveria ter de escolher o próprio caminho. Fico com a escola que prepara homens e mulheres e não robôs. Fico com escola que prepara cidadãos e não consumidores. Fico com a escola que não prepara a vida, mas que já é a própria vida.

Nada é mais libertador ou tirânico do que um professor. E como diria John Keating, as palavras podem sim mudar o mundo. Obviamente, o mundo tenta nos convencer de que palavras nada mudam pois nada assusta mais do que a mudança.

Muitos de nós preferimos viver condenados a vidas medíocres do que corrermos o risco de cair em uma vida trágica. Entre a mediocridade e a tragédia, a mediocridade parece menos pior. Será mesmo?

Imaginem um mundo em que as pessoas são preparadas para pensar com suas próprias cabeças e acima de tudo, sentirem. Imaginem um mundo em que cada um escolha seus próprios caminhos? Se nos dias atuais já é complicado falar sobre liberdade para decidir o seu destino e autonomia de pensamento, imaginem o quanto era complexa esta questão nos anos 1950, em que pais e professores tinham o dever moral de preparar os jovens para cumprir ordens e padrões de forma completamente obediente?

O que dizer de um jovem que já tem o destino traçado pelo pai, desafiar todo o projeto de uma vida em nome de um sonho arriscado? Lutar pelos próprios sonhos ou se render à realidade sempre foi um dos dilemas mais complexos do ser humano.

Se para alguém com uma linha mais conservadora de pensamento, o professor provocou o caos e desestruturou a vida daqueles jovens estudantes, para alguém com uma linha de pensamento mais libertária, ele promoveu uma mudança essencial, mesmo que o efeito colateral tenha sido a perda de um jovem.

Se por um lado, muitos podem imaginar que o professor provocou mesmo que sem querer o suicídio, por outro, podemos dizer que quem o detonou foi o pai, mesmo que inconscientemente.

Saber onde reside o equívoco é uma questão de ponto de vista. A situação pode ser lida nos dois sentidos e cabe a cada um escolher o seu lado. Talvez o suicídio possa ser lido com um mero gesto impulsivo de desespero. Por outro lado, talvez, o pior dos suicídios é se condenar a uma vida longa e medíocre. Neste sentido, o suicídio do garoto foi uma libertação de uma sociedade sufocante em que o teatro e o professor Keating eram as únicas lufadas de ar fresco.

Eu, particularmente, fico com o professor e sua pedagogia afetiva e criativa que desconsidera métodos fechados. Eu fico com a poesia. Com a arte. Com o amor. Com a irreverência inteligente e criativa. Eu rasgaria com gosto aquelas páginas ridículas e inúteis que "ensinam" a mensurar a beleza e a emoção. Eu fico com o direito que cada um deveria ter de escolher o próprio caminho. Fico com a escola que prepara homens e mulheres e não robôs. Fico com escola que prepara cidadãos e não consumidores. Fico com a escola que não prepara a vida, mas que já é a própria vida.

Sociedade dos poetas mortos faz uma bela homenagem à Shakespeare, mostrando uma montagem teatral da peça Sonho de uma noite de verão. O interessante da escolha desta comédia romântica do cultuado dramaturgo inglês é o fato desta peça apresentar um tom irônico quando mostra todos os personagens encontrando a felicidade no final. A vida real é bem diferente de Sonho de uma noite de verão e Shakespeare parece debochar da nossa triste realidade por meio de uma ficção idílica.

O personagem de Neil vive Puc e um grande sonho durante a montagem teatral. Mas encerrada à apresentação, a realidade se impõe duramente e de forma inegociável e implacável. E da mesma forma que os irmãos do filme Os sonhadores não suportam a realidade , Neil opta por aquilo que para ele era um sonho e renuncia ao pesadelo vislumbrado por seu severo pai, que já traçou todo o seu destino nos mínimos detalhes.

Sociedade dos poetas mortos é uma aula de filosofia e um retrato vigoroso do professor que quase todos nós gostaríamos de ter. Do professor que todos nós deveríamos ter.

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