19 DE AGOSTO DE 2022
OPINIÃO DA RBS
O MAU TEMPO E O VENTO
Assim como no romance épico de Erico Verissimo, as gerações de gaúchos se sucedem sem ver soluções satisfatórias para os problemas causados pelos temporais que se abatem periodicamente sobre o Estado. Agora mesmo, milhares de rio-grandenses sofrem os efeitos das chuvas e dos vendavais desta semana, muitos ainda sem energia em suas residências e estabelecimentos comerciais, outros com casas destelhadas pelo granizo e com a circulação dificultada por quedas de árvores, postes derrubados e semáforos danificados.
Ontem, três dias depois do temporal registrado na última segunda-feira, um balanço divulgado pela Rio Grande Energia (RGE), concessionária responsável pelo serviço de distribuição de energia elétrica em vários municípios do Estado, registrava 55 mil clientes sem luz. E voltou a chover e a ventar, em algumas áreas com grande intensidade.
Ainda que se reconheça o esforço das empresas responsáveis pelo serviço para restabelecer a normalidade, o que se percebe - mesmo com a privatização de algumas operações - é o insuficiente investimento em planejamento e prevenção, que certamente evitariam estragos difíceis de consertar. O maior exemplo dessa mazela histórica é a rede aérea de cabeamento elétrico e telefônico, predominante na maioria das cidades gaúchas, composta invariavelmente por postes defasados e fiação inadequada, além de ser vulnerável ao vandalismo.
Ninguém ignora que a questão de fundo é econômica. Substituir o modelo atual pelo cabeamento elétrico subterrâneo ainda parece uma alternativa inacessível para o orçamento da maioria dos municípios brasileiros, mas algumas iniciativas localizadas vêm demonstrando que isso já é possível. Cidades catarinenses como Joinville, São José, Lages e Florianópolis, por exemplo, já contam com sistemas de cabeamento subterrâneos bem-sucedidos, inclusive em relação ao chamado custo-benefício. No Rio Grande do Sul, também há experiências nesse sentido em cidades como Gramado, Bento Gonçalves e Santa Cruz do Sul. Embora a instalação demande maior investimento, a redução de riscos também diminui significativamente os gastos com a manutenção, acabando por compensar o custo inicial.
Enquanto esta solução ideal continua distante, pelas conhecidas dificuldades econômicas do país, é essencial que o poder público e as empresas concessionárias dos serviços busquem conjuntamente alternativas emergenciais para atenuar o sofrimento das famílias atingidas por intempéries. Ainda que muitas dessas pessoas habitem áreas urbanas consideradas irregulares, o abastecimento de energia elétrica é uma questão de saúde pública, pois contribui para a preservação dos alimentos, para o fornecimento de água potável e evita a utilização de fontes poluentes que provocam doenças e prejudicam o meio ambiente.
Vendavais e chuvas torrenciais, às vezes acompanhados de granizo e raios, podem ser difíceis de prever até mesmo para meteorologistas experientes. Mas ninguém precisa de muito conhecimento técnico para prognosticar que emaranhados de fios e postes de madeira mal conservados serão destruídos pelo vento e pelo tempo, símbolos históricos da resiliência e da reação dos gaúchos às tragédias da vida. E ficar três dias sem luz é uma tragédia que exige respostas urgentes das autoridades e dos prestadores de serviços essenciais.
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