terça-feira, 16 de agosto de 2022


16 DE AGOSTO DE 2022
CAPA

A voz da mudança

Em "D", novo álbum de inéditas, Djavan procura trazer o som das boas novas que anunciam a chegada de um mundo melhor

Assim que encerrou a turnê do álbum Vesúvio (2018), em junho passado, Djavan anunciou o seu mais novo trabalho: D, que chegou na última semana às plataformas digitais, com 12 músicas - sendo que 11 delas são inéditas. Como fio condutor do álbum está o objetivo do artista de levar otimismo para quem o ouve, de ser o som das boas novas, da mudança para um mundo melhor.

O trabalho, realizado de maneira rápida para os padrões do alagoano de 73 anos, começou a ser criado em junho do ano passado e foi concluído em abril último - geralmente, Djavan passa entre dois e três anos em estúdio. Ele acredita que a velocidade para a criação da obra se deve ao tempo parado durante a pandemia, que trouxe ainda mais vontade de produzir.

Assim, foi "compondo, compondo e compondo", trazendo para a obra quem ele era no momento de cada criação com o objetivo de levar luz para combater o obscurantismo que ele enxergava no mundo quando começou a criar o álbum - período em que muitas pessoas estavam morrendo por conta da covid-19, falta de vacinas e negacionismo.

- Cada música, cada período de um disco gravado, revela quem você é naquele momento, musicalmente. O que você pensa sobre as coisas, sobre a questão social, política, toda a questão que envolve a sua existência, onde você está habitando, as pessoas com quem você convive. É isso que, na verdade, o trabalho novo traz: é a existência em volta - explica o artista em entrevista a ZH.

Em D, Djavan traz participações significativas. A primeira delas é Milton Nascimento, com quem divide os versos da música Beleza Destruída - a canção foi lançada antes mesmo do disco, como segundo single e clipe do álbum. Afinal, este pedido de décadas dos fãs não poderia esperar mais.

- Foi um encontro muito bonito e que deu muito prazer aos dois. Nunca tínhamos feito nada juntos, e esse encontro veio para acabar com essa falta que eu e muita gente sentíamos - pontua o alagoano.

Na música, que tem letra de Djavan e harmonia inventada em seu violão, ele e Bituca cantam uma mensagem política e ecológica urgente, denunciando a destruição da natureza: "Mas o homem/ Cego por dinheiro/ Só sabe dizer:/ Dizimar, dizimar/ Ver tanta beleza/ Destruída/ Encolhendo/ A própria vida assim/ É o fim". Em menos de três semanas, o clipe ultrapassou a marca de 1,3 milhão de visualizações no YouTube.

Outro encontro que era muito aguardado por Djavan em um disco seu era com a família - mais precisamente, com seus cinco filhos e dois netos. Juntos, eles gravaram a canção Iluminado, que fecha o álbum. E reforça a mensagem da obra: "Que venha a nós/ Voz de todo canto/ Num alento guiado pelo vento/ Trazendo o melhor que tem/ Vem cantar/ Pra tudo aqui ficar/ Iluminado".

- Era um desejo antigo. A gente, às vezes, se reúne em casa, no sítio, toca, canta e tudo. E aí queria trazer isso para um disco. Nunca tinha feito uma gravação com eles. E trouxe todo mundo, todo mundo gostou - celebra.

Turnê

Conhecidas devido a suas letras complexas, suas canções se tornaram patrimônio da nação, verdadeiros hits que atravessam gerações. Em fevereiro deste ano, por exemplo, Djavan bateu a marca de um bilhão de streams em áudio e vídeo nas plataformas digitais. Em setembro, o artista atemporal sobe ao palco do Rock in Rio para um show que ele pretende que seja histórico. No mesmo dia, tocam Coldplay, Camila Cabello e Bastille, que surgiram décadas depois do cantor e compositor brasileiro, mas isso não quer dizer que sejam mais atuais.

- A minha obra é baseada na diversificação. Isso explica, por exemplo, um público igualmente diversificado do ponto de vista de raça, religião, faixa etária e classe social. Acho que isso vem através da própria diversificação do trabalho, que acaba atraindo um público bem extenso do ponto de vista dessas questões todas. E talvez seja esta a razão principal do meu trabalho ainda hoje ser relevante - reflete.

Com disposição para criar, gravar e fazer shows em grandes festivais, seja no Brasil ou no Exterior, Djavan já cravou a data de quando sai em turnê do seu novo álbum. O "dia D" será em 31 de março de 2023, com passagem por Porto Alegre, cidade que ele diz adorar e que tem um público que ama. Assim, o artista busca entregar aos fãs o que diz na letra do primeiro single do novo álbum, Num Mundo de Paz: "Belas noites de verão/ De mãos dadas por aí/ Retomar o que era bom/ Ser feliz é logo ali".

- Não dá pra ficar de braços cruzados. Tudo você tem que buscar, principalmente a felicidade. Você tem que trabalhar por ela, você tem que ir buscá-la onde ela estiver. Mas, exatamente por isso, porque depende do seu esforço, de sua iniciativa, ser feliz é logo ali - finaliza.

CARLOS REDEL

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