"Algumas empresas vão precisar morrer" diz consultor considerado pai da sustentabilidade
DANIEL GIUSSANI de São Paulo
O jornalista Daniel Giussani colabora com a colunista Giane Guerra, titular deste espaço
Uma das palestras mais esperadas no Fórum Encadear 2022, evento que a coluna acompanha em São Paulo, era com o especialista inglês John Elkington, conhecido no mundo corporativo por ter cunhado o conceito Triple Bottom Line, que provoca empresas a pensarem, para além do lucro, também em como estão impactando o meio ambiente. Por esse motivo, é conhecido como "pai da sustentabilidade".
Em pouco mais de uma hora, Elkington falou sobre as oportunidades - como a transformação da matriz energética mundial - e riscos - como as mudanças climáticas e agravamento de desigualdades sociais. Também apresentou alguns novos conceitos, como de "regeneração", que seria uma mudança de cultura das companhias para aceitar as novidades e as mudanças sociais, econômicas e ambientais.
- As empresas precisam, cada vez mais, trabalhar com líderes de várias gerações diferentes. Isso construirá uma única geração - falou.
Mas um dos momentos que mais chamou a atenção da coluna foi quando Elkington disse que, com o novo momento econômico, focado no ESG (sigla que significa, em português, ambiental, social e governança), "algumas empresas precisarão morrer, e precisaremos deixá-las morrer".
O especialista tratava de negócios que estão resistindo a transformação ambiental que pauta boa parte das discussões empresariais de hoje. A justificativa do consultor é que não há capital humano e financeiro suficiente no mundo para se investir, ao mesmo tempo, em todos os grandes negócios resistentes e em todos os nos novos negócios mais sustentáveis que surgem.
Elkington também citou casos de companhias que estão dividindo seus modelos de negócios em mais de uma vertente: um focada em negócios sustentáveis, e outras em negócios mais tradicionais, que ainda usam, por exemplo, bastante combustível fóssil. De acordo com ele, a tendência é que, eventualmente, esses negócios com foco menos ecológico deixem de existir ao médio e longo prazo, e investidores focem mais nas vertentes de sustentabilidade.
Após a palestra, a coluna conversou com o especialista para entender mais sobre a visão dele sobre o assunto. Confira na entrevista abaixo:
O senhor falou na palestra que algumas empresas precisão morrer. O que você quis dizer com isso?
Muitos países passaram por processos de desindustrialização, mas em muitos outros, que investiram por muitos e muitos anos nessas empresas (como de óleo ou carvão), e apostaram nelas por todo o século 19 ou século 20, a visão é de que seria um crime fechá-las agora. Mas essas mudanças ambientais estão tão rápidas e tão fortes, que se tentarmos trazer todas as indústrias antigas para a transformação, e investir apenas nelas, não teremos dinheiro para trazer outras. E politicamente, isso é difícil. As pessoas costumam ser mais barulhentas quando estão perdendo. Não é simples, mas se tentarmos auxiliar e investir para que essas empresas entendam a causa ambiental, entendam a causa social, vamos gastar muito dinheiro. Pode ser melhor acabar com elas.
Como as empresas estrangeiras veem a questão da sustentabilidade no Brasil?
Vários ambientalistas viam o Brasil como um velho oeste, e essa visão se confirmou, recentemente, com a morte de Don Philips e Bruno Pereira. Mas hoje de manhã, estava com alguns ministros, e tive informações sobre algumas propostas de renovação de energia. Acho que o Brasil tem uma grande oportunidade de mudar a percepção de como trata o meio ambiente. A maioria das pessoas não pensam no Brasil o todo tempo, mas quando pensam, focam muito no meio ambiente. A questão da Amazônia, da cana de açúcar. Se você pensar no país como um país problemático, é preciso fazer uma mudança de percepção. Há bons exemplos de empresas grandes, como a Suzano, que tem buscado fazer essas mudanças. Mas a maioria das pessoas não pensam muito no Brasil economicamente, exceto quando há um problema. E essa é uma oportunidade para o país começar a contar mais histórias para perspectiva positiva. Os jovens querem ouvir, querem saber que o progresso está sendo feito. Se pudermos trazer evidências que essas mudanças estão acontecendo, eles vão nos agradecer.
A coluna acompanha o Fórum Encadear 2022 à convite do Sebrae.
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