31 DE AGOSTO DE 2022
OITO ANOS DE ABANDONO
Vizinhos do Olímpico vivem uma rotina de insegurança
Prefeitura dará prazo de um ano para que obras comecem. Brigada Militar e Grêmio se esforçam para impedir furtos no local
A inauguração da Arena, em dezembro de 2012, tirou do bairro Azenha uma potência econômica. Entre 1950 e 2010, o Estádio Olímpico foi palco fundamental na construção da marca à frente de uma receita anual na ordem da centena de milhões de reais, fidelizou a sexta maior torcida do Brasil e promovia eventos que levavam em média 20 mil pessoas por semana à região entre as avenidas Carlos Barbosa, Erico Verissimo e Azenha. Mais do que a casa de 5 milhões de gremistas, as cercanias do Largo dos Campeões eram consideradas um bom lugar para morar, apesar do movimento antes e depois de jogos.
Oito anos após a saída do Tricolor da Azenha, a Karagounis, braço da construtora OAS e futura proprietária do terreno de R$ 200 milhões, ainda não conseguiu cumprir o acordo para explorar comercialmente esse ponto central da cidade, originalmente idealizado com condomínio e shopping. Quem ficou por lá, contando com a ação prometida pela empreiteira, atingida na Operação Lava-Jato, sofre com a insegurança trazida pelo abandono do septuagenário "velho casarão".
Hoje, o Olímpico em ruínas virou uma mina de ouro para quem troca qualquer metal por pequenos valores. No último dia 16, o prefeito Sebastião Melo se reuniu com o Ministério Público Estadual para dar um ultimato aos proprietários: se não começarem a construir na área em até um ano, a prefeitura da Capital tomará atitudes que podem chegar à desapropriação do imóvel.
Entre terça e sexta-feira da semana passada, ZH circulou nas imediações do estádio conversando com moradores, comerciantes e trabalhadores que convivem com o abandono da área diariamente. A reportagem flagrou furtos de materiais retirados de dentro das arquibancadas, conheceu histórias de quem tenta sair de lá e de quem aprendeu a gostar da tranquilidade sem jogos.
Os anos de impasse judicial entre a empresa baiana e o clube gaúcho fizeram as barulhentas multidões de torcedores serem trocadas por sorrateiros andarilhos. A equipe de 10 seguranças que circula dentro dos portões do Olímpico - custando, segundo o Grêmio, R$ 100 mil por mês - não é suficiente para impedir que moradores de rua se acumulem nas vias vizinhas ao estádio nem que entrem e saiam do local.
Sem-teto
Quem enxerga o movimento de longe não consegue identificar se quem pula os portões do estádio são de fato usuários de drogas ou moradores de rua buscando abrigo. O fato é que os acampamentos de pessoas sem residência se multiplicaram pelas calçadas e canteiros nos últimos 10 anos.
- Clientes têm se queixado de serem muito abordados por moradores de rua entre o Menino Deus e a Azenha, algo que não acontecia quando o Grêmio estava aqui - diz Heitor Colar, 54 anos, açougueiro da feira de hortifruti que funciona ao lado do estádio desde 1988.
Nos canteiros centrais mais próximos à Rótula do Papa, na Avenida Erico Verissimo e na Rua José de Alencar, lonas, cordas e estruturas de madeira servem de abrigo aos sem-teto. Segundo moradores da região, os esforços das autoridades em retirar as pessoas daqueles locais são superados pelo retorno e remontagem poucos dias depois.
Quando a Carris fez acordo com o clube e estacionou na área do Olímpico seus ônibus fora de uso durante a pandemia, ou quando a Brigada Militar e os Bombeiros utilizaram o terreno para cursos e treinamentos, em junho deste ano, a situação melhorou. O relato dos moradores que têm teto na região mostra que os desabrigados procuram mais o Olímpico e a vizinhança quando o acesso ao interior do estádio é menos difícil.
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