19 DE AGOSTO DE 2022
CARPINEJAR
Boneco de neve versus Chucky
O granizo é o penetra na festa da neve. Você está esperando doces e suaves flocos de gelo, e vem pedrada do céu destruindo tudo.
Só quem é gaúcho e mora aqui conhece esse lado nada bonito do inverno, esse lado sombrio, esse lado assustador: o infortúnio de plantações devastadas e colheitas comprometidas, de empresas e residências destelhadas, de ginásios cheios de desabrigados e intensa procura por lonas na Defesa Civil (mais de cinco mil metros foram fornecidos nesta semana apenas em Charqueadas).
Os temporais registrados entre o final da tarde e início da noite de segunda-feira criaram pânico entre moradores de dezenas de cidades no Rio Grande do Sul. Em Rio Pardo, por exemplo, 3 mil moradores arcaram com prejuízos.
Cerca de 338 mil unidades residenciais ficaram sem energia elétrica. Houve registro de ventos de 120 km/h. Árvores derrubadas fecharam avenidas, geraram engarrafamento e mudaram o mapa rodoviário e o trajeto de seus moradores. Aulas terminaram suspensas em Canoas.
A neve e o granizo são a luta do bem contra o mal, o embate da luz com as trevas em nosso firmamento. A neve é lúdica, enternece as famílias, reúne a todos para o arrebatamento da brancura pelas telhas, capôs e copas, convoca para a rua crianças que deixam o seu gorro e sua manta nos bonecos. O granizo traz medo, é agressivo e perigoso, ninguém pode ficar exposto fora de casa para não se machucar. É o boneco Chucky com seu macacão jeans e olhos azuis de relâmpagos roubando o nosso patrimônio.
A neve surge das nuvens baixas; o granizo, das nuvens altas. A neve parte das nuvens rasteiras, perto do solo, tipo cerração, sem peso, sem ser tocada pelo vento, congelando moléculas de água em sua capa.
O granizo parte da mais empírea atmosfera, atrapalhando o voo dos aviões e causando turbulências, carregando ventanias enodadas, enjoadas, em sua garupa. De acordo com Cléo Kuhn, são estruturas e armações diferentes em alturas distintas: o granizo é sólido, empedrado, já a neve é maleável, pastosa, entre sólida e líquida.
Na semana do Festival de Cinema de Gramado, em que a rede hoteleira aguarda lotação esgotada pela previsão de neve, aparece no tapete vermelho uma inoportuna tempestade de pedras, desprovida de convite, para acabar com a nossa beleza, nosso chocolate e nosso vinho.
Os turistas jamais entenderão: o frio custa caro para nós.
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