Mídias sociais, influenciadores e muito suspense
Jaime Cimenti
Nesta época todo mundo é seu próprio editor, diretor, roteirista e outras coisas mais. Como profetizou o grande pensador canadense da comunicação Marshall McLuhan, o universo das mídias digitais e dos influenciadores serve como plataforma ideal para exposição de tudo e de todos, todo o tempo, sem grandes possibilidades de limites e regulamentações. O mundo da web é meio terra de ninguém e os influenciadores ganharam importância, dizendo verdades ou mentiras e muitas vezes faturando uma grana colossal.
A Influencer (Editora Intrínseca, 384 páginas, R$ 59,00, tradução de Luciana Dias e Maria Carmelita Dias) é o primeiro romance de Ellery Lloyd, pseudônimo do casal Collette Lyons e Paul Vlitos. Ela é jornalista e editora e já escreveu para veículos como The Guardian, The Telegraph e Sunday Times. Paul é autor de outros dois romances, além de coordenador de literatura Inglesa, Cinema e Escrita Criativa na Universidade de Surrey.
A trama gira em torno de Emmy Jackson, a @Mama.semfiltro, que tem uma língua afiada e não perde a chance de falar o que bem entende. Para seu marido, um escritor que caiu no ostracismo e sabe bem como Emmy é capaz de aumentar a verdade, ela é brilhante no que faz - monetizar os momentos íntimos da sua vida familiar.
Emmy não é tão honesta quanto seus fãs acreditam. Mas alguém sabe a verdade e ela vai pagar por isso. Pessoas como Emmy não têm ideia do que pode causar a falta de cuidado com as palavras.
O romance mostra o lado sombrio do universo dos influenciadores e os perigos da hiperexposição da vida privada e revela a necessidade quase desesperada de sermos vistos e reconhecidos nas redes sociais. Até onde alguém é capaz de ir para buscar likes?
Três vozes nada confiáveis narram os acontecimentos, destacando a artificialidade da cultura digital e a toxicidade das mídias sociais, e vão muito além da fachada glamourosa do mundo dos influenciadores. Jogos de poder, traições, inveja e ódio do público estão na obra.
Lançamentos
A Guerra dos Farrapos (BesouroBox Ltda, 192 páginas, R$ 52,00), 12ª edição do importante romance do consagrado escritor Alcy Cheuíche, aborda, com rigor histórico, as razões de ambos os lados em conflito, sem cultivar o ódio nem o separatismo, recontando os dez anos do histórico embate.
Mulheres Esquecidas (Bestiário, 194 páginas, R$ 48,00), romance de Rosane Pereira, escritora e psicanalista, traz histórias de mulheres em situação de vulnerabilidade social, mediante a constituição de um território de linguagem para aquelas que são silenciadas.
De mãos dadas (Paidós- Editora Planeta, 208 páginas, R$ 25,90), de Cláudio Thebas e Alexandre Coimbra Amaral, é um livro sobre luto, mas está longe de ser um livro triste. Ele mostra um palhaço e um psicólogo conversando sobre a coragem de viver o luto e as belezas que nascem da despedida.
O Rio de Janeiro continua lindo
Neste inverno pós-pandemia o Rio de Janeiro segue sendo, segue lindo, ameno e ensolarado, com seus 20 mil funcionários estaduais secretos em ano eleitoral, recebendo na boca do caixa, mas irrigando a economia, vá lá. Mas a corrupção e essas tretas público-privadas vêm do período colonial e seguem firmes e fortes, mesmo após algumas prisões de governadores. Quem sabe um dia o verdadeiro interesse público vai predominar e a máquina pública vai beneficiar realmente o Estado e não os pombalinos interesses privados.
O Rio sempre será lindo, a não ser que alguns terremotos ou meteoros gigantes e distópicos destruam suas belas colinas, o Cristo, o Bondinho e a Roda Gigante e a não ser que uma seca de tamanho amazônico evapore as águas dos oceanos de suas lendárias praias. Se Deus quiser, e ele há de querer, nada disso acontecerá. Rio não combina com fim do mundo, apesar de algumas opiniões em contrário.
A Cidade Maravilhosa já resistiu a crises políticas, econômicas, sociais, incêndios e desastres ambientais, mas segue se recriando, segue construindo maravilhas como o Museu do Amanhã, o metrô e recebendo milhões de turistas do Brasil e do exterior. Graças a Deus, os turistas estão chegando, para alegria dos hotéis, dos bares, restaurantes e demais estabelecimentos, dando vida à cidade, fazendo a roda girar. Teatros, casas de espetáculos, galerias, feiras e praças vão retomando o pique, ao ritmo do samba e da bossa nova. O show tem que continuar.
Copacabana - a Princesinha do Mar - vai chorando um pouco, melancólica, mas sempre com charme irresistível. Mesmo com os "vulneráveis", os sem-teto e com outros problemas econômicos e sociais (que, aliás, existem em muitas metrópoles pelo mundo), vai tocando seu barquinho e seu violão, na esperança de novos anos dourados. Copa vai mantendo a velha categoria da Galeria Menescal (onde dá para tomar Grapette), do Copacabana Palace e de restaurantes imortais como o La Fiorentina.
Ipanema vai se renovando, com obras e revitalização de hotéis, e ainda conta com a beleza da Garota de Ipanema, que aos 77 anos está linda e forte. Outras gerações de garotas vão chegando como as ondas do mar, e aí tudo é verão e a vida vai continuando, divina e sagrada, como tem que ser.
O elegante Leblon segue sendo como os cenários das novelas de Manoel Carlos na Globo, com seus bebês, suas babás, seus jovens e seus adultos que curtem os restaurantes da rua Dias Ferreira e de outras ruas arborizadas e vivem naquele clima ainda bucólico e docemente interiorano .
Para não dizer que não falei de assaltos e outras tristezas, que é uma pena que existam no Rio, como existem em outras cidades, aí é preciso não exagerar nas roupas, não ficar ostentando relógio de R$ 50 mil, joias desnecessárias. Melhor andar com um celular velho (o novo fica em casa) e, claro, com um dinheirinho no bolso para um eventual ladrão.
A propósito...
Não gosto muito daquele papo pavoroso de que o Rio de Janeiro acabou, que os anos dourados não voltam mais, que está tudo ruim e que não tem solução. Aliás, esse papo infelizmente é hoje federal. É bom lembrar que, há poucos anos, o Rio estava bem de caixa, com limpeza e segurança melhores. Apesar de tudo, é preciso não desistir e não perder as esperanças no Rio e no Brasil. Claro que é difícil e a gente está careca de saber que o parto do Brasil é demoradíssimo e que a corrupção resistiu até aos severos sermões do Padre Vieira.
Fazer o quê? Ficar de olho nas fake news e votar o melhor possível é o que temos para hoje. Acho que Deus, pelo visto, com sua infinita paciência e bondade, ainda deve ser brasileiro. Já para nossos hermanos argentinos a coisa está mais enrolada que namoro de cobra e, pelo visto, nem as rezas fortíssimas do Papa estão adiantando. Dizem as más línguas que a gente chama os argentinos de hermanos porque irmão a gente não escolhe. Mas que barrrbariidadeee!
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