quarta-feira, 17 de agosto de 2022


17 DE AGOSTO DE 2022
MÁRIO CORSO

A infiltração maligna

A vizinha bateu à porta para me mostrar algo. Minutos depois, eu olhava para o teto da sua lavanderia. Uma roda de mofo e umidade exatamente abaixo do meu aquecedor de água. Decididamente não é a melhor maneira de começar um sábado.

Aquele borrão redondo verde-bolor parecia um olho agourento espreitando. À noite, sonhei com a mancha, com meu gerente do banco me negando crédito e com um vampiro trajando macacão de oficina.

Segunda-feira, recebi uma firma de encanamento. Mal olharam e veio o veredito. A receita era arrancar tudo, do piso ao teto, para trocar as juntas homocinéticas digitais e a tubulação esclerosada por sais clorados e ferrugem iônica. A parte deles era R$ 10 mil. Demolição e troca do encanamento. Para a reconstrução indicaram um parceiro que por mais uns R$ 10 mil resolveria o caso. Eles dão garantia, mas não em prédios da Idade Média como o meu.

A segunda firma era de aquecedores. O técnico disse que meu aparelho não é mais usado desde a Guerra do Paraguai. Teria que trocá-lo e também os canos. Os atuais são incompatíveis com o fluxo energético da bomba de pressão ergonômica hidrostática que vem acoplada. A parte deles era de R$ 15 mil. Não envolvia a troca do piso, da parede e do teto e a impermeabilização a laser com ácido hialurônico. Seis meses de obra e duas semanas de garantia. Ao sair, ele me deu os pêsames e um cartão da esposa, que é corretora de imóveis, caso optasse por me mudar.

A terceira firma era de engenharia, faria toda a reforma. A troca do aparelho, das paredes, do piso, da laje e mais a manta asfáltica de acetato de tungstênio ficariam por R$ 35 mil. À vista sem desconto ou em duas parcelas de R$ 20 mil. A garantia deles é quântica, ora eles dão, ora não dão. Para mim caiu o não. Ao sair sugeriram que nesses casos, pela experiência deles, seria bom o contratante frequentar um psiquiatra e usar antidepressivos durante a obra.

Justo ia ligar para o psiquiatra quando Victor chegou. É um faz-tudo engenheiro amador que chamo para consertos. Ele mostrou-me uma tênue linha junto à parede saindo do aparelho. Era um vazamento mínimo que não pingava e sim escorria por um dos canos. Depois a água descia pelos azulejos até uma falha no rejunte do piso. Trocou a borrachinha que veda a junção dos canos e parou o vazamento.

Perguntei o valor do conserto. Ele disse que quando é só cinco minutos, apenas cobra o valor da visita. Não entendeu quando lhe paguei três visitas a título de presente de desaniversário.

MÁRIO CORSO

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