05 DE AGOSTO DE 2021
DAVID COIMBRA
Por que a política passou a me aborrecer
Oh, Senhor, o Seu mar é tão grande, e o meu barco é tão pequeno!
Às vezes repito essa oração dos velhos pescadores escoceses, em geral quando constato a minha insignificância em relação às imensas coisas da vida, algumas que até gostaria de modificar, mas que, bem sei, jamais conseguirei.
Misericórdia, Senhor!
É o que peço, porque, diante de mim, ergue-se o paredão de uma onda invencível. Só espero que ela desabe e eu saia do outro lado molhado, porém incólume.
Sabe o que renovou e, mais, o que solidificou essa minha humildade? O destino da Operação Lava-Jato. Por algum tempo, me iludi. Via os poderosos amedrontados, via gigantes sendo punidos e pensei: o Brasil mudou, nos tornaremos, enfim, como esses países anglo-saxões em que a lei é dura, mas é lei.
Qual o quê! Solertemente, eles reagiram. Buscaram forças em todos os escaninhos da sociedade, serviram-se de inocentes, aproveitaram-se de antigos ressentimentos e venceram. Não posso deixar de admitir que foi um movimento coordenado e sábio. A esquerda e a direita se uniram. Personagens aparentemente díspares, como Lula, Bolsonaro e Gilmar Mendes, trabalharam na mesma direção. E a Lava-Jato foi engolida por um redemoinho voraz.
Tudo voltou a ser como era em Brasília.
A Lava-Jato é um símbolo. Foi a maior ousadia institucional que o Brasil experimentou, teve apoio da maior parte da população e funcionou por certo período. Parecia que vingaria, mas seu desfecho mostra que nada mudará no país, nunca, nunca.
O que ocorreu com a Lava-Jato, somado ao que ocorre atualmente na política brasileira, confesso, me desanimou. Quando alguém fala em política, chega a me dar sono. Porque tenho a impressão de que é uma conversa inútil. É assim mesmo e sempre será assim. Para que se incomodar?
Talvez volte a me entusiasmar com o debate político, não sei. Por enquanto, as manifestações apaixonadas de petistas e bolsonaristas me provocam, tão somente, tédio. Eles falam, eu bocejo.
Alguém pode achar que estou tentando me colocar em um plano superior. Tipo: eu blasé, com o queixo sustentado pela palma da mão, afirmando molemente que me encontro acima dessas discussões mundanas. Nada mais errado. É o contrário disso. Como observei acima, trata-se de uma demonstração de humildade. É a constatação da minha minúscula estatura em comparação com os monstruosos mecanismos que controlam a vida brasileira. É a consciência de que o mar é tão grande, e o meu barco, tão pequeno. Tenha misericórdia de mim, Senhor. Tenha misericórdia.
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