segunda-feira, 5 de dezembro de 2011



05 de dezembro de 2011 | N° 16908
L. F. VERISSIMO


Apelidos

Minha tese é a seguinte: o que falta para qualquer relacionamento dar certo é o apelido. O homem e a mulher – ou o homem e o homem e a mulher e a mulher, ninguém aqui tem preconceito – devem providenciar apelidos um para o outro assim que o relacionamento der sinais de que vai ser sério. Não valem apelidos já existentes, de infância. Os dois devem se dar apelidos novos, só deles. Pichuchinha. Gongonzongo. Não importa que sejam ridículos.

O apelido é uma forma de você tomar posse de outra pessoa. Dos dois anularem suas identidades anteriores e assumirem outras, só deles. Por isso, a troca de apelidos entre namorados deveria ter a solenidade de um batizado, sem padre nem testemunhas. Deveria ser um sacramento secreto, um ritual particular de apropriação mútua, para toda a vida. Uma união só é indissolúvel com apelidos. O único amor verdadeiro é o amor com apelido.

– Sei não. Romeu e Julieta...

– Não tiveram tempo de ser “Ro” e “Juju”.

– O Duque e a Duquesa de Windsor?

– “Bobsky” e “Bubsky”. Li em algum lugar.

O importante é não esperar para se darem apelidos. Achar que com o tempo os apelidos virão. É um erro pensar que uma união feliz produz apelidos carinhosos. É o contrário: apelidos carinhosos produzem uniões felizes.

Claro, há sempre o perigo de um apelido entre casais ser usado para chantagem. Um homem chamado de “Tiquinho” em segredo pela mulher jamais se separará dela com medo que ela espalhe o apelido e explique sua origem.

E há casos pungentes.

– Bem, posso lhe pedir um favor?

– Qual é? – Em vez de “Chururuca”...

– Sim? – Pode ser “Morenão”?

– “Morenão”?! – Ninguém vai ficar sabendo.

– Mas você nem moreno é! – Eu sei. Mas eu prefiro “Morenão”.

– Tá bem. Ela passaria a chamá-lo de “Morenão” quando estivessem sozinhos. Mas com uma ressalva:

– Sem efeito retroativo.

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