segunda-feira, 5 de dezembro de 2011



05 de dezembro de 2011 | N° 16908
LUIZ ANTONIO DE ASSIS BRASIL


Escândalos literários

Diz-se, e é verdade, que a cultura não vive sem escândalos. Assim foi com o Impressionismo, em Paris, ou com o Modernismo, em São Paulo. As gerações inovadoras encontram resistência nos mais velhos que, via de regra, esquecem-se que já foram jovens e idealistas.

A questão ganha peso quando os escândalos são gerados de pessoa a pessoa, para divertimento do público.

Há um livro que se dá o tempo de coligir os alvoroços na área da cena literária. Chama-se Les Scandales Littéraires (Os Escândalos Literários), de Claire Julliard, colaboradora do mítico Bernard Pivot, notável por seu extinto programa de TV Apostrophes, no canal Antena 2.

Das dezenas de histórias, podem-se destacar algumas deliciosas que deram o que falar.

Um zunzum gaiato foi o sumiço de Agatha Christie por 11 dias. Digamos assim: por 11 dias ninguém soube de seu paradeiro. As hipóteses iam do suicídio ao sequestro.

Para complicar, encontraram seu carro abandonado junto ao lago que foi cenário de duas personagens de seus romances. Dentro, seu casaco e documentos de identidade. O lago foi dragado; milhares de pessoas a procuraram nas redondezas. Ofereceu-se uma recompensa. Médiuns foram convocados.

Um desses afirmou que ela ainda vivia. Até pediram a Conan Doyle que resolvesse o caso; afinal, era o criador de Sherlock Holmes, o grande detetive. O caso revelou-se simples, quase banal.

Agatha hospedara-se num hotel balneário de Harrogate, registrando-se como Teresa Neel, a amante de seu marido. As pessoas a reconheceram pelas fotos dos jornais. Podemos imaginar a indignação geral. A imprensa denunciou: golpe de publicidade, puro e simples.

O fato é que Agatha jamais explicou as razões de seu ato, e mais: acrescentou uma ponta de mistério post mortem: Ao falecer, em 1976, encontraram uma anotação entre seus papeis: “A chave do mistério de meu desaparecimento se encontra no meu quarto do Pera Palace (o hotel ainda existe), em Istambul”.

Correram a verificar. Num esconderijo, no parquet do quarto, encontraram o quê? Outra chave. O mistério, em vez de ser resolvido, complicou-se, e até hoje excita os leitores da grande escritora.

Por isso podemos entender uma citação do livro, com o crédito para Marcel Aymé: o que confere ao escândalo toda sua importância, não é seu lado singular, episódico, mas ao contrário, é o que ele contém de habitual e, às vezes, quotidiano.

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