quarta-feira, 3 de novembro de 2010



03 de novembro de 2010 | N° 16508
JOSÉ PEDRO GOULART


Dona Dilma

agora que a sua eleição se confirmou, tudo que desejo é descobrir que a senhora mentiu durante a campanha.

Que a mentira tenha acontecido por obediência às orientações do pessoal do marketing. Ao que parece foi preciso criar um escudo – mesmo que fabricado pelo aço da hipocrisia – para lidar com o baixo nível na campanha. O seu adversário, no afã de virar o jogo, esqueceu-se dos históricos princípios de um homem íntegro que sempre foi e imaginou a ressurreição da TFP como cabo eleitoral.

De modo que ao contrário do que se pode depreender das suas recentes declarações, dona Dilma, eu quero crer na sua garantia irrestrita com a ideia de um estado laico e independente. O comprometimento com as religiões, senhora presidente, deve ser apenas no sentido de proteger as liberdades individuais que, como se sabe, são um direito de todos – inclusive dos religiosos.

Na questão do aborto, por exemplo, a senhora mentiu, não mentiu? Sem querer roubar a azeitona da empada da sua festa, dona Dilma, trazendo de volta esse assunto com o cadáver político do Serra ainda morninho, eu espero honestamente que o tema volte a ser discutido.

E isso feito amplamente, com pluralidade (como vocês, homens e mulheres públicos, gostam de prometer) e com sua mão feminina pronta para assinar os termos que garantam uma discussão justa sobre o assunto.

Digo isso e logo afirmo que sou contra o aborto. Mas a favor da sua descriminalização. Que o Estado garanta o acesso da mulher, especialmente o da mulher pobre, ao sistema público de saúde quando uma gravidez for indesejada – procedimento comum, feito às sombras por quem tem recursos e que cria um subsistema perigoso e insalubre.

Aproveitando a ocasião, desejo que a senhora se empenhe para que o casamento entre pessoas do mesmo sexo seja permitido; algo que, além de só dizer respeito aos envolvidos, abre possibilidades de novos núcleos familiares, onde crianças órfãs, ou rejeitas, possam ser adotadas.

Outro tema seria a legalização da maconha. Quanto do enriquecimento de bandidos, beneficiados pelo tráfico ilegal, seria evitado caso isso acontecesse? E não vá me dizer, senhora presidente, que durante aquelas atividades políticas clandestinas nunca rolou um tapinha. Pois bem, a geração que acreditou na paz, no amor e na liberdade chegou ao poder e quem sabe faz a hora, não espera acontecer.

Portanto, presidente Dilma Rousseff, espero que a senhora justifique meu voto e seja fiel. Ao Brasil.

Respeitosamente, JP Goulart.

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