Aqui voces encontrarão muitas figuras construídas em Fireworks, Flash MX, Swift 3D e outros aplicativos. Encontrarão, também, muitas crônicas de jornais diários, como as do Veríssimo, Martha Medeiros, Paulo Coelho, e de revistas semanais, como as da Veja, Isto É e Época. Espero que ele seja útil a você de alguma maneira, pois esta é uma das razões fundamentais dele existir.
terça-feira, 2 de novembro de 2010
02 de novembro de 2010 | N° 16507
CLÁUDIO MORENO
Ninguém pode saber
Assim como as dores que tenho nunca serão idênticas às dores do meu vizinho, assim ninguém nunca saberá o valor exato que as coisas têm para os outros. O que vale muito para Pedro pode nada valer para João... Em seu diário de viagem, Colombo narra como os nativos do Caribe trocavam pepitas de ouro por bugigangas sem valor.
Um importante cacique ficou maravilhado ao receber um colar de contas de âmbar, um par de sapatos vermelhos e uma garrafinha de água-de-flor de laranjeira, que eram, para ele, presentes dignos de um deus – enquanto verdadeiros enxames de nativos, em suas precárias canoas, vinham rondar as naus espanholas em busca de algum tesouro, especialmente os guizos, que chegavam a valer quatro pedaços de ouro do tamanho de um punho.
Colombo mostra-se tocado com a ingenuidade daquela gente, sem pensar que talvez o cacique, à volta da fogueira, faça sua tribo rir muito com a história daqueles brancos que se desfazem de coisas tão belas e preciosas em troca de um metal sem som e sem cheiro, tão inerte, inútil e comum quanto qualquer pedregulho.
Como exemplo dessa incomunicabilidade, William James conta uma história verídica: um viajante americano, no interior da África, tendo encontrado por acaso um velho exemplar de um jornal de classificados de Nova Iorque, pôs-se a ler avidamente todos os anúncios.
Quando terminou, os nativos, que não sabiam o que era leitura – e muito menos o que era um jornal –, fizeram uma grande oferta pelo misterioso objeto. Quando ele perguntou a razão de seu interesse, responderam, impressionados: “Medicina. Para ver melhor” – porque essa lhes pareceu a única justificativa razoável para alguém dedicar tanto tempo a mover os olhos para cima e para baixo ao longo daquela superfície silenciosa.
Quem poderá avaliar o tamanho da minha satisfação? Ninguém, a não ser eu mesmo. Por mais próximo que eu esteja de uma pessoa, ela terá de se contentar com uma ideia aproximada do entusiasmo ou do prazer que experimento – e não muito mais do que isso, pois as próprias palavras que uso para expressá-los não significam exatamente o mesmo para ela e para mim.
Esta parte irredutível que cada um leva dentro de si é um ponto cego nas relações humanas; quando nos damos conta disso, diz William James, ficamos mais humildes e mais tolerantes, perdendo aquele ar impiedoso com que costumamos avaliar as escolhas que o outro faz.
Divido com minha mulher uma gama tão grande de emoções e sensações que às vezes até parece que já dançamos sem música – mas sou obrigado a confessar que nem mesmo posso saber se o mate que compartilhamos tem, para ela, o mesmo gosto que sinto...
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