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segunda-feira, 1 de novembro de 2010
01 de novembro de 2010 | N° 16506
PAULO SANT’ANA
Debate do bocejo
Preparei-me, sexta-feira passada à noite, para assistir ao debate entre Dilma e Serra.
Eu tinha certeza só de uma coisa: Dilma jamais pronunciaria duas palavras no debate: mensalão e Erenice.
E fiquei, então, só aguardando que José Serra abordasse com insistência os temas sobre o mensalão e sobre Erenice.
Nem Dilma, como era esperado, nem Serra, para surpresa geral, abordaram os dois temas profundamente incômodos para Dilma.
De Dilma, se esperava essa estratégia de silêncio sobre aqueles dois temas. A surpresa impactante foi Serra não ter pronunciado aquelas duas palavras por uma vez sequer em todo o debate.
Se à Dilma não interessava a abordagem desses dois temas, pois ela estava folgada na liderança das pesquisas, por outro lado, para Serra era vital e indispensável que colocasse Dilma, no debate, em uma camisa de força dos dois assuntos.
Dilma saiu-se triunfante em seu silêncio.
Serra foi decepcionante e vergonhosamente omisso e ineficaz em seu silêncio.
Resulta disso tudo que tivemos um debate de bocejo. Quando eu pensava que Serra iria colocar espirros, tosses, soluços no debate, ele estimulou os bocejos do público.
Só à Dilma interessava que os telespectadores bocejassem. A Serra cabia despertar os telespectadores daquela modorra condenável, fazê-los se mexer nas poltronas e nas camas, gritar, vibrar.
O único dever de Serra era espernear durante todo o último debate. Ao contrário disso, ele ficou de pernas e mãos amarradas na sua antiestratégia de candura, cordialidade, reverência e cavalheirismo com Dilma.
E é preciso que Serra saiba de uma vez por todas que cordialidade e cavalheirismo não dão votos. É preciso energia.
Alguns atribuem ao método do último debate o clima de bocejos. Chamaram 80 indecisos de todo o Brasil para fazer perguntas aos dois candidatos.
Quero afirmar veementemente que não interessa o teor das perguntas, o que interessava a Serra era o teor de suas respostas. Ele estava liberado para responder o que quisesse. Quando lhe perguntaram sobre corrupção, ele tinha de ter devassado o mensalão. Quando lhe perguntaram sobre previdência, não fazia mal nenhum que uma aresta da resposta dele falasse na rede de nepotismo e filhotismo que Erenice armou na Casa Civil.
Serra foi um rotundo fracasso no debate.
Já Dilma, foi um estrepitoso sucesso. Ela repetiu quatro vezes no debate o seguinte: “Nós criamos 15 mil empregos nos últimos oito anos, três vezes mais que o governo anterior”. É isso que o povo quer saber, Dilma focou sempre o que o povo quer saber e desfocou inteligentemente os assuntos que eram ruins para ela.
Serra deixou escapar uma grande oportunidade para mudar as pesquisas.
Dilma não queria que nada mudasse. E Serra foi o seu auxiliar mais prestimoso e solícito nessa tarefa.
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