Aqui voces encontrarão muitas figuras construídas em Fireworks, Flash MX, Swift 3D e outros aplicativos. Encontrarão, também, muitas crônicas de jornais diários, como as do Veríssimo, Martha Medeiros, Paulo Coelho, e de revistas semanais, como as da Veja, Isto É e Época. Espero que ele seja útil a você de alguma maneira, pois esta é uma das razões fundamentais dele existir.
quarta-feira, 9 de setembro de 2009
09 de setembro de 2009 |
N° 16089 - JOSÉ PEDRO GOULART
Conceito pipoca
Eis um fato, fui tutelado pelo cinema. E garanto que os filmes que mais me impressionaram foram os que demoliram com as minhas certezas sobre qualquer coisa. Mas de um tempo para cá minha relação com o cinema caiu na mesmice, então dei um tempo.
Preferi ficar com minhas próprias elaborações, os filmes que ficassem com suas redundâncias atuais. Adicto que fui, porém, comecei a ter uma certa síndrome de abstinência. Voltei.
E voltei para uma aventura em 3D com a minha filha – ao que parece a resposta do cinema à pirataria é esta, sofisticar a projeção. Logo, logo o jogo sensorial com espectador irá aumentar ainda mais: cheiros, poltronas vibrando, variações de temperatura conforme a cena e até eventos ao vivo
Ou seja, o cinema, tal como a gente conhece, está acabando. Sou dado a previsões apocalípticas, então repito: o cinema já era. O que vem aí é outra coisa que apenas nos fará lembrar de um tempo em que compartilhávamos uma salinha escura com cheiro de mofo, uma tela grande e hectolitros de ilusão.
Pena. Há algo irrecuperável no modo de ver filmes com a tela plana, a gente cá e os personagens lá. Essa é uma síntese que nos ajuda a submergir nas profundezas de um filme.
O excesso de estímulos tira um tanto de atenção, uma parte de concentração, um naco de emoção do espectador. Outra coisa: foram os ensaios humanistas do Visconti, do Rossellini; os sonhos do Fellini, do Godard; as memórias afetivas do Truffaut, enfim, que fizeram com que os filmes tivessem o prestígio de Sétima Arte.
Porém, o pessoal que paga a conta investe cada vez mais em repetitivas histórias, cada vez mais infantilizadas. É só botar no computador, tem lá um programa que troca os nomes, muda aqui e ali uma coisinha, reveza o elenco e era isso.
Outra coisa é o “conceito pipoca”. Tal conceito impõe um padrão de coexistência: salas assépticas em shoppings, luz acesa durante a projeção, conversas, celulares etc.
E, claro, a própria pipoca que, apesar de ser atentatória à saúde por misturar altas doses de sal e gordura, é vendida livremente. Qualquer adulto com um balde de pipoca e meio litro de Coca no cinema se transforma no Homer Simpson. E o Homer e o Bergman são incompatíveis.
Na tela, uma mãe ressentida, crunch, crunch, a filha conflituada, nham, nham. E o som – não no grito, mas no sussurro – de uma latinha abrindo. Não adianta espernear: R$ 12 um saco de pipoca, com custo de produção de menos de R$ 0,50, contra R$ 12 pelo ingresso do filme que precisa ser dividido entre exibidor, produtor, distribuidor? A pipoca venceu! O cinema já era. Os filmes só existem para vender pipoca.
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