terça-feira, 8 de setembro de 2009



JOÃO PEREIRA COUTINHO

Os homens, esses neandertais

Estudo mostra que homens perdem a cabeça na presença da beleza feminina. UM DOS meus filmes favoritos de Woody Allen não foi dirigido por Woody Allen. Foi apenas escrito por ele.

Intitula-se "Play It Again, Sam" ("Sonhos de um Sedutor", no Brasil) e oferece uma das sequências mais hilariantes de toda a história do cinema, perfeitamente comparável com o melhor dos irmãos Marx.

Acontece quando Woody Allen, no papel de um intelectual neurótico e inseguro com adoração mitômana pela figura de Humphrey Bogart, se prepara para conhecer uma mulher atraente, amiga de um casal amigo, e disponível para um jantar a quatro.

Woody tenta manter a calma, minutos antes de a donzela bater à porta. Com uma pose confiante e blasé, imitação artificial do seu herói, põe um disco de jazz a rolar no prato.

Mas quando a donzela entra em cena, os artifícios dele; a sofisticação urbana e mundana; a frieza cabotina "à la Bogart", convertem-se em pó. E ele recua milhares e milhares de anos na história da evolução humana para se converter, muito simplesmente, em neandertal.

Não fala; grunhe. Não caminha; arrasta-se e tropeça. E, em matéria de charme ou confiança pessoal, desconfio que o Corcunda de Notre Dame tinha mais.

Sempre ri da sequência. Sempre concordei com ela: de fato, quem somos nós, pobres homens, na presença de uma mulher bonita? Exatamente: a prova definitiva de que Darwin estava certo.

Agora, a ciência veio ao meu encontro: o "Journal of Experimental Social Psychology" chegou à conclusão irrefutável de que os homens perdem a cabeça na presença da beleza feminina.

"Perder a cabeça", aqui, deve ser lido em sentido literal: depois de medirem a atividade cerebral dos voluntários, cientistas holandeses da Universidade de Radboud determinaram uma diminuição real nas capacidades cognitivas dos machos.

Em termos pictóricos, não será exagero afirmar que o cérebro masculino encolhe e derrete perante a luz de uma ninfa. Mas só de uma ninfa: o mesmo estudo determinou que o cérebro masculino fica intacto na presença de um bagulho. Como explicar o fenômeno?

Uma vez mais, Darwin é o nome: confrontado com uma "oportunidade de reprodução", o homem usa e abusa de todos os seus "recursos cognitivos" para impressionar a presa. Por sua vez, esse excesso de energia canalizado para uma só função provoca um deficit cerebral para as restantes e posteriores funções.

É como se os homens esvaziassem uma parte da cabeça para que a outra parte possa funcionar a todo o vapor. Os prejuízos mentais são inevitáveis.

Um dos cientistas, aliás, sentiu isso na pele e foi a sua experiência pessoal que lançou a hipótese: depois de conhecer e conversar com uma mulher atraente, ele foi momentaneamente incapaz de se lembrar do próprio endereço.

Verdade que falamos da Holanda, onde as perdas de memória são motivadas por outros produtos. Mas vocês percebem a tese. A tese dos homens e, claro, a tese das mulheres, igualmente sob observação laboratorial.

Só que, ao contrário dos homens, as voluntárias não demonstraram nenhuma perda cerebral depois de um contato com a beleza masculina.

Simplificando, não basta ser um Brad Pitt para que a cabeça das senhoras abane um pouco. É preciso ser um Brad Pitt, ter sentido de humor, cultura bastante e a dose certa de gentileza e responsabilidade. Um extraterrestre, portanto.

Depois da descoberta, resta a pergunta: que conselhos práticos podemos deixar aos nossos leitores? Os cientistas não se atreveram a tanto, mas eu arrisco alguns caminhos.

Para começar, cai por terra a típica acusação feminina de que os homens são irresponsáveis e infiéis.

Os homens não são irresponsáveis nem infiéis; eles têm apenas um cérebro que conspira contra os próprios: confrontados com uma "oportunidade de reprodução", eles são imediatamente esmagados por milhares de anos de luta pela sobrevivência que impedem qualquer capacidade racional para dizer "não".

E, por falar na palavra "não", nenhuma mulher atraente a deveria usar no delicado trato com o sexo oposto. Pelo contrário: cabe-lhe compreender e até acolher alguém que arrisca de forma tão brutal a sua própria sanidade.

E sempre sob risco de danos cognitivos temporários ou permanentes. Valerá a pena juntar um trauma a outro trauma?

Melhor dizer "sim". Caso contrário, não excluo que apareçam na barra alguns pedidos de indenização contra todas as mulheres bonitas que, por uma razão ou outra, permitiram que certos homens se esgotassem mentalmente contra uma parede de recusas.

jpcoutinho@folha.com.br

Nenhum comentário: