terça-feira, 1 de setembro de 2009



01 de setembro de 2009
N° 16081 - LUÍS AUGUSTO FISCHER


Três histórias coloradas

O feio protagonizado pelo Fernandão anteontem, no Beira-Rio, tem aspectos de tragédia, nas modestas proporções dramatúrgicas do futebol (que são mais impressionantes, em outro sentido, porque são testemunhadas por milhões e, pior ainda para o protagonista, não são percebidas como trágicas).

O capitão do Mundial Fifa 2006 cometeu a famosa hybris grega: ultrapassou um limite que era conhecido por ele e por todos, que ele pretendia racionalmente preservar mas que se mostrou a ele como ultrapassável, com aquele charme que os limites civilizatórios sabem impor mas fazem questão de exibir, sedutores.

Fernandão precisava afirmar-se naquela partida, que não era um simples jogo e sim uma epopeia. Dali ele poderia ter saído vitorioso, se tivesse sabido renunciar à tentação (da porrada, da imposição física) e se tivesse conseguido conduzir seu novo exército à vitória; dali ele saiu derrotado, ridicularizado, humilhado, por erro seu, simplesmente por erro seu, de ninguém mais.

O treinador, para escalá-lo, jogou no lixo uma lenta e sofrida construção coletiva, que vinha dando muito certo (o time nunca tinha tomado quatro no Brasileiro deste ano e perdera muito poucas vezes no campeonato).

O destino, como nos grandes lances trágicos, se ofereceu a ele na forma de uma chance heroica (imaginemos ele marcando o gol de uma hipotética virada, sangrando e com cãibras, aos 39 do segundo tempo) que porém trazia em seu interior uma tentação tola. Ele sucumbiu a esta.

No mesmo domingo, por uma dessas banais simetrias da realidade, faleceu Gildo Russowsky, presidente colorado num momento ruim do clube, posterior ao Segundo Rolo e na época inicial da construção do Beira-Rio, em que ele por sinal ajudou muito.

Os jornais de ontem lembraram sua extensa folha de serviços prestados ao clube, desde o começo dos anos 30, quando integrar-se ao Inter significava outras coisas, que não as atuais, relativamente charmosas e eventualmente recompensadoras. (Uma significativa entrevista com ele se encontra no livro de Cláudio Dienstmann História de uma Paixão, da L&PM).

Mas, salvo cochilada minha, não se lembrou que com ele apagou-se também um testemunho privilegiado da carreira de seu irmão, David Russowsky, que é ninguém menos que o famoso atacante Russinho, do Rolo em seu talvez melhor momento, formando a linha com Tesourinha, Russinho, Villalba, Ruy e Carlitos.

Assim como jogou um bolaço por três anos no Inter, parou de jogar, assim que se formou em Direito. (Uma ótima nota biográfica está no livro de Kenny Braga, Rolo Compressor, da Já Editores). Largou o futebol no auge, aos 25 anos, para lidar com advocacia. Quem viveu viu, mas está morrendo.

Nenhum comentário: