quarta-feira, 12 de agosto de 2009



12 de agosto de 2009
N° 16060 - DAVID COIMBRA


A Galinha Magricela, pura poesia

Aconteceu uma coisa horrível com a minha pessoa: não consigo tirar da cabeça a música da Galinha Magricela. Já faz quase uma semana isso. Ouvi a música umas três ou quatro vezes com meu filhinho Bernardo no colo, dias atrás, e foi o que bastou para que a letra e a melodia se me entranhassem no cérebro, temo que para todo o sempre.

É um tormento. Imagine o compreensivo leitor que a música da Galinha Magricela tem sido a trilha sonora da minha existência por dias inteiros, vários dias, incessantemente. O Marcelo Rech, importante e sisudo diretor da RBS, veio falar comigo de assuntos importantes e sisudos. Enquanto ele falava, dentro da minha cabeça ribombava:

Bota ovo pela sala
No banheiro e na cozinha
Ela bota, bota, bota
Sem parar
A Galinha Magricela
Bota ovo sem paraaaaar

Não conseguia me concentrar no assunto importante e sisudo. O Marcelo Rech ficou me olhando de um jeito estranho.

Como é que vou viver com a música da Galinha Magricela embalando os meus dias? Alguns momentos exigem solenidade, puxa. Como é que vou assistir a um enterro cantarolando mentalmente a Galinha Magricela? Como é que vou participar de programas de rádio e TV com a Galinha Magricela reboando-me nos tímpanos? Não dá.

Agora: espero que o leitor compreenda: a Galinha Magricela é uma boa música. De qualidade. Fiz uma análise criteriosa da letra. Trata-se de um diamante rútilo de poesia. Note, nos versos coruscantes que reproduzo abaixo, como o autor joga com os sons e os sentidos das palavras:

Eu conheço uma galinha
A galinha da vizinha
Avezinha magricela e depenada

Quem tem pena da galinha
Avezinha depenada
A galinha magricela da vizinha?

Não é lindo? Aquela ambivalência que dança entre a avezinha e a vizinha, e o fato de alguém sentir ou não pena da galinha depenada. É por isso, por esse quilate poético, que não consigo esquecer a Galinha Magricela. Além do mais, é uma música que faz pensar: uma galinha realmente emagrece e perde as penas, se botar muitos ovos por dia? Sim, pois é o que a letra afirma.


“A galinha magricela é magrela de botar”, diagnostica o autor. Talvez. Mas o curioso é que a protagonista da história (a Galinha Magricela), ainda que seja excessivamente magra e não tenha penas, julga-se linda, porque ela não apenas bota ovo, como “bota banca de mais bela do Brasil”.

Essas questões têm-me obcecado. Passei a desconfiar das intenções do compositor. Uma letra tão engenhosa, tão bem-amanhada, não poderia ter sido feita apenas em homenagem a uma galinha poedeira que emagreceu demais. Não. Decerto o autor queria falar de sua vizinha, xingá-la, chamá-la de galinha.

Provavelmente foi rechaçado amorosamente por ela. Despeito puro, imagino. Sei lá. Sei que fico horas cogitando sobre as intenções escusas incrustadas na letra da Galinha Magricela.

Tornei-me um cínico, essa a verdade. Por quê? Obviamente, por causa dos dirigentes de futebol. Eles negaceiam, eles iludem, eles quase nunca dizem a verdade. Fizeram de mim um desconfiado. Não posso nem ouvir uma musiquinha infantil que já suspeito de subterfúgios. Que tristeza isso. Que tristeza ouvir o dia inteiro a música da Galinha Magricela, que bota ovo sem parar.

O maior Gre-Nal

Escalei minhas seleções da Dupla a pedido da RBS e do Carrefour. Aí vão elas, quero saber que time ganharia esse Gre-Nal:

GRÊMIO

Lara; Arce, Aírton, Oberdan e Everaldo; Valdo, Paulo César Caju, Denner e Gessy; Renato e Ronaldinho.

Técnico: Oswaldo Rolla.

INTER: Manga; Cláudio, Figueroa, Mauro Galvão e Oreco; Batista, Falcão, Paulo César Carpeggiane e Tinga; Tesourinha e Valdomiro.

Técnico: Ênio Andrade.

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