terça-feira, 11 de agosto de 2009



11 de agosto de 2009
N° 16059 - PAULO SANT’ANA


O filho de Deus

Estou voltando novamente a escrever e a situação é a seguinte: os atos médicos preparatórios para a cirurgia delicada de que serei alvo ainda neste agosto foram concluídos. Passei cinco dias internado no Hospital Moinhos de Vento, onde tive carinho devocional de médicos, enfermeiras e outros atendentes.

Resultaram os exames que, ao que calculo e se afirmou lá, foram satisfatórios e já asfaltam o caminho cirúrgico.

Estou de volta, mas ainda em agosto darei lugar novamente a meu interino, que, vejo, se tornou permanente, para desolação dos outros 11 antigos interinos, que segundo determinação superior nunca mais me substituirão. Melhor para mim odiar só um do que vários.

No leito do hospital, me ocorreu que, se Jesus Cristo não fosse filho de Deus, como ele próprio se anunciou, teria sido adotado por Deus, em face da grandiosidade e significado de sua mensagem que há dois milênios ilumina o mundo.

Ou seja, se por acaso Jesus não fosse filho unigênito de Deus, como ele próprio se pronunciou diante de seus apóstolos e no que este colunista acredita piamente, Deus o teria feito seu mandatário, teria registrado em cartório a sua adoção como filho dileto e agente da autoridade divina.

Portanto, há a versão corrente e oficial, a qual me filio, de que Cristo é enviado de Deus, e a versão clandestina de que ele foi escolhido por Deus, que se sensibilizou com seu sacrifício e elegeu-o imediatamente seu mensageiro.

Assisto todos os domingos, sofregamente, ao programa Bate-Bola, da TVCOM. Ponho-me a par da rodada do Brasileirão, revejo todos os gols e me delicio com a opinião dos integrantes sobre as vicissitudes da dupla Gre-Nal.

Vou continuar a assistir, sempre, ao Bate-Bola.

Anteontem, no entanto, decepcionei-me. Compareceu como entrevistado o vice-presidente de futebol do Internacional, Fernando Carvalho. De cara, ele foi dizendo que não lhe perguntassem sobre o intrigante desenlace entre Fernandão, que foi para Goiás e não voltou surpreendentemente para o Beira-Rio, para o clube que ele ajudou notavelmente a ser campeão do mundo.

Ora, um dirigente ir ser entrevistado para principalmente falar sobre Fernandão e declarar de início que não quer falar sobre isso é o antijornalismo em marcha. Afinal, a presença do dirigente lá no programa só teria intenso interesse se ele abordasse o assunto em tela.

Para minha estupefação, Fernando Carvalho não foi dali por diante perguntado por nenhum dos integrantes do programa sobre Fernandão, como tinha sido determinado e solicitado pelo entrevistado.

E eu, como ouvinte, me frustrei. Porque há uma regra no jornalismo esportivo que não pode ser violada: entrevistas coletivas com dirigentes de clubes e treinadores têm de ser caracterizadas preferencialmente por perguntas que os entrevistados não desejariam que lhes fossem feitas.

Quando se viola essa regra, murcham inexoravelmente e tristemente essas entrevistas.

A impressão que me dá o noticiário é de que está ocorrendo só agora a judicialização pública da Operação Rodin.

Como leitor e bacharel em Direito, ainda não pude alcançar se podem concorrer duas ações judiciais, uma contra a improbidade administrativa e outra, concomitante, como ação penal correspondente aos presumíveis delitos.

O que ouvi falar no hospital e nos táxis que me carregaram é que “não vai dar em nada”. Se todos os envolvidos e requeridos pelo Ministério Público Federal forem inocentes, será sublime que “não dê em nada”.

No entanto, se há culpados, não pode e não deve “não dar em nada”.

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