Aqui voces encontrarão muitas figuras construídas em Fireworks, Flash MX, Swift 3D e outros aplicativos. Encontrarão, também, muitas crônicas de jornais diários, como as do Veríssimo, Martha Medeiros, Paulo Coelho, e de revistas semanais, como as da Veja, Isto É e Época. Espero que ele seja útil a você de alguma maneira, pois esta é uma das razões fundamentais dele existir.
terça-feira, 11 de agosto de 2009
11 de agosto de 2009
N° 16059 - MOACYR SCLIAR
O agosto do nosso descontentamento
Rosane de Oliveira lembra-nos que este agosto faz jus à tradição: além da gripe, a hecatombe na área política não é pequena. É, de fato, agosto o mês do desgosto, ou trata-se só de uma rima? E se agosto é mesmo do desgosto, qual seria a explicação para essa desagradável característica?
Na sua origem europeia, nada existe contra agosto, ao contrário. O nome do mês homenageia o imperador romano Augusto, um dos mais respeitados soberanos de Roma, e que, no oitavo mês do ano, obteve alguns dos mais expressivos êxitos de sua carreira.
Na Itália, este é o mês do ferragosto, feriado em geral celebrado na praia –no Hemisfério Norte, agosto é o auge do verão. Nesta época, as naus portuguesas zarpavam em busca de novas terras, o que obviamente não fariam se o mês fosse considerado azarento.
É certo que, por causa dessas viagens, muitas portuguesas recusavam-se a casar em agosto, mas isto, convenhamos, faz sentido.
No Brasil, agosto coincide com o inverno, com suas conhecidas repercussões psicológicas: Shakespeare fala, em sua peça sobre o sinistro Ricardo III, no “inverno de nosso descontentamento”. Atrás disso há um fato cientificamente comprovado: o inverno, por causa dos dias sombrios, é uma estação depressiva.
O clima propriamente dito reflete-se no clima emocional: agosto é um mês sério, quando não carrancudo. Ah, sim, e é o mês do cachorro louco. Veterinários explicam que a época coincide com o cio canino, e isto favorece a transmissão, por mordeduras, do vírus da raiva, doença que já foi um grande problema de saúde pública no Brasil.
Finalmente, temos a posição de agosto no ano brasileiro. Que costumamos dividir em dois semestres, bem diferentes entre si. O primeiro semestre começa com o verão, com férias, com praia; ele se segue ao Natal e ao Ano-Novo, ele tem o Carnaval, a Páscoa, o Dia das Mães.
Agosto, na prática, começa o segundo semestre, porque julho é, tradicionalmente, um mês de férias. Agosto é o mês em que se tem de falar sério e ajustar contas, quando for o caso.
Este ajuste de contas frequentemente se faz num clima agressivo. Nós, brasileiros, temos fama de pessoas amáveis, alegres até; é verdade, mas é só um aspecto da verdade, e a violência das grandes cidades está aí para comprová-lo. Sim, o historiador Sérgio Buarque de Holanda falou no brasileiro cordial; mas, como ele próprio esclareceu, cordial não quer dizer amável, gentil.
Cordial vem de “cor, cordis”, coração, em latim, e o coração bate mais forte sob o efeito tanto de emoções positivas (o amor) quanto de negativas (o ódio). Diz-se que agosto é o mês do cachorro louco, e esta expressão, que alude a uma maior frequência da raiva canina ou hidrofobia no mês, acabou sendo estendida a outras áreas, sobretudo a do debate político.
A troca de desaforos que vimos recentemente no Senado é uma prova de que a raiva humana, causada não por um vírus biológico, mas pelo vírus da intolerância e do desrespeito, acomete a muitas pessoas, inclusive e principalmente parlamentares.
Não, o Brasil de agosto não é o Brasil de fevereiro. Em fevereiro, tem Carnaval; em agosto, tem a reabertura dos trabalhos legislativos e, aí, sai da frente. Em agosto vale tudo, desaforos, agressões, mentiras. A tropa de choque que o diga.
Quando li os primeiros contos de Altair Martins, não tive dúvida de que estava diante de um notável escritor. O que se confirma agora com a conquista do Prêmio São Paulo na categoria estreante e demonstra que realmente o RS é um celeiro de talentos literários.
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário