sábado, 1 de agosto de 2009



01 de agosto de 2009
N° 16049 - PAULO SANT’ANA


Pequena despedida

Um amigo meu é taxativo: ele não viaja longas distâncias em ônibus com um só motorista.

Esses dias, ele embarcou em um ônibus Montevidéu-Porto Alegre e, quando o veículo parou no Chuí para fazer imigração, perguntou ao motorista se seu colega estava repousando em alguma parte do ônibus.

Para sua surpresa, o motorista lhe disse que estava sozinho, que sua empresa há muito tempo usa um motorista só. Faz escala no Chuí, troca de motorista, mas prossegue somente um motorista, o outro fica no local da troca.

Meu amigo disse que não embarcaria no ônibus se viajasse um só motorista, fincou pé, o motorista também. Acabou o meu amigo ficando na estrada e prometendo que faria queixa às autoridades competentes, ele se recusava a viajar em ônibus de um motorista só.
Pensando bem, meu amigo tem razão. Tanto em ônibus quanto em avião, tem de haver um copiloto, seja ao lado do motorista ou do piloto, seja dormindo no interior do veículo, de sobreaviso para qualquer emergência, como mal-estar do motorista titular ou do comandante do avião.

Eu achei estranha esta obsessão fixa do meu amigo. E ele emendou que, assim como em ônibus e em avião, também no casamento não tolerava ficar dependente de uma mulher só. Tinha de ter sempre uma na reserva.

Eu cheguei a brincar com o meu amigo, perguntando-lhe, se no volante do ônibus só cabia um motorista, como ele exigia dois? Aquela história que contei outro dia aqui de autoria de Shakespeare: não há lugar para quatro nádegas no mesmo trono.

Meu amigo permaneceu intransigente, disse-me que é sempre bom ter à mão um segundo motorista, ou um segundo piloto, até mesmo uma segunda mulher, para qualquer emergência.

Agora uma pequena despedida: estou entrando a partir de amanhã de licença para tratamento de minha saúde.

Foram se agravando tanto os meus males, que terei de me hospitalizar a partir de segunda-feira. O desfecho será, é quase praticamente certo, eu ser paciente de uma cirurgia, digamos assim, delicada.

Se eu tiver o engenho e a arte de entender que estes dias todos em que restarei hospitalizado são uma bela recompensa ao fato de eu nunca tirar férias da coluna, apesar de me afastar da televisão e do rádio, na coluna sempre a escrevi de onde eu estivesse, fosse do interior ou do exterior do Brasil.

Se eu souber me enganar a respeito, isso sobrepujará a preocupação com os cuidados extremos da saúde.

Se eu não souber, então meu trânsito da atual euforia que me domina nos dias atuais fatalmente será no rumo da depressão.

Mas estou saindo de licença com enormes esperanças de que possa depois dela voltar ao entusiasmo que sempre me caracterizou esta trincheira de resistência em que se constituiu nos últimos 37 anos minha coluna.

Eu voltarei, é certo que eu voltarei, aqui é o meu lugar. Até breve.

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