sábado, 1 de agosto de 2009



01 de agosto de 2009
N° 16049 - CLÁUDIA LAITANO


Otimismo vigilante

Em todos os relatos sobre famílias judias que abandonaram a Europa ainda no início dos anos 30, pouco antes de a situação realmente se agravar, sempre me surpreendeu a capacidade dessas pessoas não apenas para pressentir o perigo que se aproximava, mas também para abrir mão do conforto e da aparente segurança em nome de algo que, naquele momento, não passava de uma “intuição” histórica – a ascensão do nazismo e suas possíveis consequências.

Independentemente do curso que a história tomou, é curioso imaginar que exista uma variável mais decisiva do que a informação ou a disposição para deixar tudo para trás para explicar por que duas pessoas, diante do exato mesmo quadro, podem tomar atitudes tão extremas quanto abandonar o próprio país ou simplesmente não fazer nada e esperar.

Pessimismo ou otimismo inatos, uma inclinação de temperamento que nos leva para um ou outro lado em diferentes situações sem que a gente saiba exatamente por que, talvez influenciem nossa visão de mundo e nossas atitudes muito mais do que a gente imagina.
O exemplo de uma guerra pode parecer extremo, mas em um país como o Brasil infelizmente não são tão raras assim as situações em que somos obrigados a lidar com o peso de uma ameaça permanente sobre nossas famílias. Pergunte a qualquer criança com pouco mais de cinco anos do que ela tem medo e é provável que ela responda que não é do bicho-papão, mas de assaltante.

As notícias estão nos jornais todos os dias, e a maioria das famílias tem um caso relativamente próximo de violência, mas são poucos os que optam por medidas extremas como abandonar o país ou proibir os adolescentes de sair de casa à noite.

Talvez porque esse seja um tipo de medo que, para o bem e para o mal, todos aprendemos a incorporar ao nosso dia a dia – tanto os que veem perigo em tudo quanto os que insistem em superar os próprios temores. Ignorar o perigo é impossível, mas tornar-se prisioneiro dele é pior ainda.

A violência é uma ameaça difusa, da qual não podemos ter a ilusão de nos proteger lavando várias vezes as mãos ou cobrindo o rosto com uma máscara. Já a epidemia da gripe A nos oferece um inimigo com profilaxia conhecida – invisível, mas remediável. Para algumas pessoas, é reconfortante traçar estratégias para combater a gripe – nem todos os nossos problemas estão condicionados a um ciclo de vida de apenas sete dias.

Evidentemente, informação, canja de galinha e cuidados básicos para evitar a contaminação são necessários. Mas, de novo, talvez não seja uma escolha exclusivamente racional decidir-se entre o pânico e a serenidade. As pessoas simplesmente reagem de formas diferentes às ameaças: algumas com cautela, outras com alarme.

Como membro do time menos alarmista – por orientação inata para o otimismo (ainda que vigilante) e baseada no que a maioria dos especialistas têm dito até agora – lamento que as crianças não estejam voltando às escolas na próxima segunda-feira.

Perde-se a oportunidade de tratar a doença (e a saúde) em sala de aula, tumultua-se a rotina das famílias e o calendário escolar sem que isso traga, na minha opinião leiga, nenhuma garantia de que as crianças estão mais protegidas indo ao cinema, passeando no shopping ou brincando na casa do amiguinho. Ignorar o perigo é impossível, mas tornar-se prisioneiro dele pode ser pior ainda.

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