sábado, 11 de abril de 2009



12 de abril de 2009
N° 15936 - MOACYR SCLIAR


Coelhinhos e coelhinhas

Tanto o Natal quanto a Páscoa são celebrações cristãs, assinalando o nascimento e a ressurreição de Jesus. Mas tanto o Natal quanto a Páscoa originaram figuras paralelas que pouco ou nada têm a ver com a religião, o Papai Noel e o coelhinho.

O Papai Noel a gente ainda entende: uma figura paternal, generosa, apropriada para uma festa em que se dá presentes. Mas por que o coelho?

A resposta pode ser encontrada tanto nas características do animalzinho como no papel que ele desempenha no folclore de muitas culturas. O coelho, famoso por se reproduzir muito, é um clássico símbolo de fertilidade, como o é o ovo, também presente nos festejos da Páscoa.

Sobre a fertilidade dos coelhos perguntem aos australianos, que não gostam nada desses bichos; uma briga que começou quando, em 1859, duas dúzias dos roedores, trazidos da Europa, foram soltos numa propriedade da Austrália e multiplicaram-se fantasticamente, disseminando-se por todo o país, destruindo a vegetação e causando grandes prejuízos.

Essa ambivalência manifesta-se nas diferentes culturas. Em algumas, o coelho é um animalzinho inocente; em outras, um safado, pronto a tirar vantagem. Ah, sim, e o pé de coelho é um clássico amuleto, que dá sorte a quem o possui.

Na ficção é a mesma coisa: Beatrix Potter, cuja vida inspirou um filme com Renée Zellweger no papel da escritora, retratou-os como criaturas amáveis, mas o Coelho Pernalonga está mais para esperto do que para ingênuo. Em Alice no País das Maravilhas, o coelho introduzirá a menina a um mundo fantástico, desnorteante. Já o coelho da Páscoa é claramente um símbolo de abundância, de alegria.

O que nos leva às coelhinhas. Estas nada têm a ver com a Páscoa. São uma invenção do lendário Hugh Hefner. Jornalista de profissão, Hefner deixou a elegante Esquire, depois que lhe negaram aumento (queria 5 dólares a mais por mês); vendeu a mobília, conseguiu mil dólares com a mãe e lançou, nos anos 1950, uma revista que ficaria famosa. Além de lhe dar fama e fortuna, a Playboy forneceu-lhe um suprimento inesgotável de belas mulheres – Hefner chegou a morar com três ao mesmo tempo.

A grande atração da revista eram os nus. À época, mulheres poderiam aparecer sem roupa em publicações, desde que – curiosa convenção – não mostrassem os pelos pubianos, que assim se configuravam em redutos da moral.

Mesmo assim Hefner tentava mostrar o mais possível os referidos pelos, o que gerou uma encarniçada concorrência com a rival Penthouse nas chamadas “guerras púbicas” (não confundir com as “guerras púnicas”, travadas entre Roma e Cartago). Quando veio a liberalização, os pelos começaram a ser estilizados, gerando vários estilos: o “triângulo das Bermudas” e, para nosso orgulho, o “modelo brasileiro”.

Mas as Coelhinhas pertencem a outro departamento, os Clubes Playboys. Ali trabalham como garçonetes, usando uma roupa sumária que inclui as conhecidas orelhas. Não se atrevam a copiar o traje: ele é patenteado nos Estados Unidos, e mesmo usado chega a custar 10 mil dólares.

A organização Playboy faz questão de dizer que as Coelhinhas não são garotas de programa. Nesse sentido, são vigiadas de perto pela supervisora, conhecida como Mamãe Coelha.

Mudaram os coelhos ou mudou o mundo? Em Alice no País das Maravilhas o coelho corre de um lado para outro, desesperado, em busca de algo que a gente não sabe bem o que é. Talvez seja uma resposta para esta pergunta.

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