sábado, 14 de setembro de 2024

 Ondas de temor na Praça da Alfândega

Talvez sejam efeitos colaterais da maior enchente da história da Capital, com eventual colapso das estruturas tombadas como Patrimônio Histórico

Fabrício Carpinejar

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Mateus Bruxel / Agencia RBS
Piso da Praça da Alfândega, no coração de Porto Alegre.

Meu colega Jocimar Farina chamou atenção, e fui conferir. As famosas pedras portuguesas do piso da Rua da Praia em Porto Alegre, que imitam as ondas do calçadão de Copacabana, estão perigosamente soltas. Podem provocar sérios acidentes a pedestres incautos.

Amontoam-se umas sobre as outras como pequenos vulcões silenciosos, levantando a superfície.

Talvez sejam efeitos colaterais da maior enchente da história da Capital, com eventual colapso das estruturas tombadas como Patrimônio Histórico.

Só que nossa Praça da Alfândega, a menos de dois meses do seu mais significativo evento, a Feira do Livro de Porto Alegre, encontra-se ameaçada.

Trata-se de um quebra-cabeça manual e artesanal, difícil de montar, já que são pedras pequenas e arcaicas que exigem absoluto capricho no encaixe. É mais um trabalho artístico de reconstituição do que tarefa de um simples canteiro de obra. 

Se hoje, sem nenhuma grande mobilização urbana acontecendo, o lugar já é motivo de extremo cuidado, fazendo com que os passantes contornem obstáculos, imagine entre os dias 1 e 20 de novembro, servindo de palco para 1,5 milhão de visitantes, com a Feira do Livro funcionando a todo vapor. Não será possível transitar. Não terá nem como instalar as barracas das editoras e livrarias. O solo é capaz de afundar mais, e desmembrar, e danificar uma maior extensão do conjunto das lajes.

Além da esquisita e controvertida reforma na Rua dos Andradas, em que ocorreu a substituição pavorosa das pedras antigas de basalto por blocos de concreto, enfeando por completo o coração do centro da cidade, temos esse novo problema a corrigir em tempo recorde.

A pressa é inimiga dos principais cartões-postais da Capital gaúcha, que não devem ser desfigurados em obras provisórias, mas mantidos com seu caráter e charme originais.

E quem dera que esse fosse o único desafio hercúleo da Câmara Rio-Grandense do Livro para comemorar a 70ª edição da maior feira a céu aberto da América Latina. Ainda há a questão do orçamento para viabilizar cerca de 160 atividades, 120 mesas de bate-papo, 20 apresentações artísticas, 15 oficinas de escrita e literatura e 620 recreações na área infantil e juvenil. A contagem regressiva assusta, levando em conta que 46 dias nos separam da sua inauguração com o soar das sinetas pelo patrono Sergio Faraco.

Falta captar metade dos recursos para colocar em pé o gigantesco cenário que envolve 500 autores e 73 livreiros. Existe a carência de R$ 1,5 milhão.
Todo  ano é a mesma sina, a mesma enxaqueca financeira para o presidente da entidade, Maximiliano Ledur.

O incentivo está liberado dentro da Lei Rouanet. O que se precisa é de mais empresas parceiras, dispostas a contribuir com a cultura buscando isenção de impostos. Alguma marca se candidata?

A septuagenária feira não merece viver de esmolas. Afinal, é responsável pela comercialização de mais de 200 mil livros, cerca de 10% do faturamento anual do mercado editorial gaúcho.

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