quarta-feira, 25 de setembro de 2024


25 de Setembro de 2024
MÁRIO CORSO

A gente não quer só comida

O discurso sobre alimentação saudável venceu. Hoje é difícil comer sem pensar se o alimento faz bem, se o prato está equilibrado, se você é um bom menino - que merece sobremesa -, caso coma vegetais de todas as cores. Lembra quando foi sua última feijoada sem culpa? Ou seu último pudim da inocência?

A questão é incontornável, necessitamos de uma educação nutricional mínima. A maioria das doenças é consequência direta de alimentar-se mal, aliadas ao sedentarismo. Ainda, ser jovem é ter um corpo de borracha, um estômago de avestruz e um fígado de aço. Mas um dia, antes do que gostaríamos, o corpo avisa que a idade da salada chegou.

Dado isso, qual seria a dieta ideal?

Vá com calma, pois você vai comprar uma dieta e já querem te vender um estilo de vida. Em algumas dietas até faz sentido. Se fores fazer todo o recomendado - onde é você que prepara o suco de laranja espremido na hora, misturado com iogurte feito em casa, e acrescenta a linhaça recém macerada no pilão -, só mesmo parando de trabalhar.

Em algumas dietas, parece que a comida é um inimigo. O glúten seria tóxico e o leite, um veneno. Quando o mantra é desintoxicação, descobrimos lidar com coisas perigosas, como "radicais livres" que - suponho - fazem política dentro do corpo se você não oxidá-los. Segue um palavrório que soa como uma versão atualizada do conselho da avó, onde o limão afina o sangue.

Cuidado, como o ascetismo voltou à moda, alguns masoquistas aproveitam para contrabandear alimentos sem sal, sem açúcar, sem graça, sem gosto e sem alma. O prazer deve ser sacrificado no altar do tofu com brócolis e leite de soja.

Poderíamos resolver o assunto indo a um nutricionista. Ele pensaria o seu caso particular, e estaria encaminhada a questão. Mas estamos numa época de muitos sábios, em que todos palpitam sobre tudo. Imagina sobre comida, que é uma necessidade diária.

Lembrem, comer foi nosso primeiro prazer e provavelmente será um dos últimos. Temos que aprender a comer direito. Mas planejar um ascetismo crescente, para os decrescentes dias, é a receita da tristeza. Não há saúde que sobreviva a uma comida que seja apenas comida. Sem aquele algo a mais, a comida vira ração. 

MÁRIO CORSO

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