quarta-feira, 18 de setembro de 2024



18 DE SETEMBRO DE 2024
ENTREVISTA - Fábio Schaffner

ENTREVISTA

Maria do Rosário (PT)

Aos 57 anos, foi vereadora, deputada estadual, ministra dos Direitos Humanos e está no sexto mandato de deputada federal

"Vou fortalecer o Dmae e recriar uma estrutura análoga ao DEP"

À frente de uma inédita aliança PT-PSOL, Maria do Rosário defende uma profunda intervenção na cidade, com obras de proteção nas áreas de risco e reestruturação dos órgãos de água e esgoto. Prega ainda jornada dupla na rede de ensino e revisão da venda da Carris.

Como evitar que Porto Alegre sofra de novo os efeitos de uma enchente?

Com consciência climática e gestão que responda às necessidades estruturais da cidade. Não foi culpa da natureza. Estávamos mais do que avisados e há duas responsabilidades. De um lado, a destruição ambiental. De outro, não se preparar, não fazer manutenção no sistema de proteção e esquecer de limpar bueiros, atender as casas de bombas, contratar geradores. Essas coisas básicas que faltaram levaram a um prejuízo humano, financeiro e ambiental incalculável para Porto Alegre.

A senhora defende remoção de 80 mil pessoas que hoje vivem em 142 áreas de risco em Porto Alegre. Como fazer isso e para onde levar essas famílias?

Não defendo a remoção, mas a qualificação dessas áreas para que deixem de ser de risco. Talvez exista necessidade de remoção nas situações mais graves, mas primeiro vem a vida. Vou buscar recursos para ampliar o Minha Casa Minha Vida e a política habitacional. As cooperativas habitacionais têm construído mais moradias do que o Demhab (Departamento Municipal de Habitação).

A senhora é contra a concessão do Dmae e pretende recriar o DEP (Departamento de Esgotos Pluviais). Há recursos para universalizar água e esgoto até 2030, como determina o marco do saneamento?

A prefeitura está recebendo recursos do governo federal para isso e já perdeu R$ 124 milhões. Não perderei um tostão, vou fortalecer o Dmae e recriar uma estrutura análoga ao DEP, inclusive com a Defesa Civil junto, para fazer monitoramento e manutenção de tudo o que é necessário. Temos a missão de acabar com a indústria da torneira seca que foi instalada pelo prefeito Melo.

O índice da rede municipal caiu em todos os níveis no Ideb. Como reverter?

Acabar com a corrupção na educação, investir esse dinheiro na estrutura das escolas, em jornadas pedagógicas, colocar os melhores professores nas escolas que estiverem com mais dificuldade e atuar para que as crianças fiquem mais tempo até conseguirmos cumprir jornada dupla. Vou fazer incentivo na alimentação, buscar recursos com a Conab (Companhia Nacional de Abastecimento) para conseguir dar café da manhã, lanche, almoço e, a partir daí, trabalhar a dimensão pedagógica. Vou colocar uniforme escolar.

A senhora fala em rever parcerias na educação. Qual a alternativa para zerar o déficit nas creches?

Não vou rever, vou ampliar. Até porque é uma parceria que vem lá do governo Olívio Dutra. Dá para fazer mais e melhor os convênios. Pegar a Topo Gigio, que é uma escola comunitária com muita história no Morro da Cruz, mas não tem espaço para expandir, e com a mesma equipe gerencial alugar uma outra casa na mesma comunidade para duplicar as vagas. Gastaria menos para instalar novas creches do que se gasta hoje.

O seu programa cita adoção de linguagem inclusiva na documentação oficial. Há previsão de linguagem neutra na rede de ensino?

Não, de forma alguma. Na documentação significa que a pessoa que vai a uma unidade de saúde e se identifica como mulher ou homem, não é a prefeitura que vai julgar. Na rede escolar, não haverá linguagem neutra, muito menos Hino Nacional cantado errado.

? Como a senhora pretende resolver as filas no SUS?

Temos de melhorar o referenciamento e a central de regulação. É impressionante o crescimento da fila de cardiologia, oftalmo e ortopedia. Temos de fazer auditoria na fila para verificar urgências e emergências e priorizar atendimento. O presidente Lula disponibilizou uma policlínica, mas precisamos de outras duas. Quero criar essas três policlínicas, onde também já está associado o exame clínico, laboratorial e de imagem.

A senhora defende tarifa zero no transporte público mas critica o repasse da prefeitura às empresas. Como fechar essa equação?

Critico porque a prefeitura virou funcionária das empresas. Quem paga a conta é a população, e a prefeitura não cobra qualidade. Tiraram os cobradores e não colocaram ninguém como auxiliar. Não posso me comprometer, mas vou estudar a figura de um auxiliar nos horários de pico. Vamos buscar recursos federais para a tarifa zero.

A senhora pretende rever a venda da Carris?

Muitas pessoas me apresentam que a prefeitura teve grande prejuízo, até porque a venda se dá em módicas prestações em longuíssimo prazo. Se a Procuradoria-Geral do Município me apresentar algum caminho para reestatizar, farei isso.

A senhora diz na propaganda que foi ministra do Brasil. Por que não diz que foi ministra dos Direitos Humanos e do governo Dilma?

Porque meus adversários tentam destruir a imagem dos direitos humanos. Eu preciso dialogar mostrando um trabalho mais amplo.

A senhora aprovou no Congresso a isenção do IPI na linha branca para os afetados pela enchente, mas o presidente Lula vetou. Faltou articulação com o governo ou empatia do presidente?

Ele não queria vetar, mas a Fazenda disse que o texto não garante que o desconto chegue ao consumidor final. Ele ficou de resolver e estou cobrando. 

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