25 DE SETEMBRO DE 2024
GPS DA ECONOMIA - Marta Sfredo
Por que queda no PIB do RS é boa notícia
Ante as expectativas, a queda de 0,3% no Produto Interno Bruto (PIB) do Rio Grande do Sul no segundo trimestre em relação ao período anterior de três meses é uma boa notícia. Havia projeções de que o tombo fosse muito maior, dado o efeito desastroso do dilúvio de maio. Mais surpreendente foi o crescimento de 4,6% ante o mesmo trimestre de 2023, o mais tradicional no Estado por embutir o resultado da safra de verão.
Ao apresentar os números, o pesquisador do Departamento de Economia e Estatística (DEE) Martinho Lazzari observou que o "correto" seria comparar o PIB do período com a expectativa, não com o desempenho anterior.
- Foi melhor do que o esperado, mas não é igual ao que teria sido sem enchente. O impacto existe e vai permanecer no tempo - reforçou o diretor do DEE, Pedro Zuanazzi.
A primeira leitura óbvia é que o campo sofreu muito menos do que se temia: a agropecuária cresceu 34,6% ante o segundo trimestre de 2023. O efeito da enchente apareceu com mais clareza na indústria, que teve retração de 6,5%. Das 14 principais atividades do setor, 10 tiveram queda, mais acentuada em máquinas e equipamentos (-26,3%), produtos químicos (-10,9%) e produtos alimentícios (-5,1%).
Outro componente da "boa notícia" foram os incentivos aplicados no Estado logo depois do desastre, ainda no segundo trimestre. Houve injeção de recursos que ajudou a movimentar o varejo, por exemplo. O segmento cresceu 5,1% na comparação com igual período de 2023.
- Foi um trimestre com cada mês de um jeito. Abril foi bom, maio foi uma catástrofe, e junho já começou a recuperar - afirmou Danielle Calazans, secretária do Planejamento, Governança e Gestão, que tem a DEE sob seu guarda-chuva.
Esse comportamento inesperado já provoca necessidade de estudos mais profundos sobre o que ocorreu com a economia gaúcha depois do dilúvio. A Federação das Indústrias do Estado (Fiergs) prepara uma análise porque o consumo de reparação - ainda não é a reconstrução - não deve se repetir.
Calazans observa que esse é um ponto de atenção também para o governo do Estado, que estuda alternativas para evitar que o fim da ajuda emergencial possa ter efeito negativo na economia. _
fluxo x estoque
O fato de o PIB do RS não ter caído tanto não quer dizer que o Estado não teve pesado prejuízo. O que o PIB mede, explicou Martinho Lazzari, é o fluxo. A maioria dos cálculos das perdas com a enchente usam o conceito de estoque de capital. Para comparar, em uma fábrica o estoque seria formado por prédio, máquinas e equipamentos, e o fluxo, pela produção mensal. O Estado perdeu pontes, escolas, casas, que terão de ser repostas, mas segue produzindo.
No DEE, que calcula o PIB, os primeiros dados disponíveis de julho indicam que a recuperação segue, com bons números de venda de carros, geração de empregos positiva e recuperação no cultivo de trigo, que sofreu em 2023.
US$ 140 bi
é o valor do pacote de incentivo à economia anunciado ontem pelo Banco Popular da China, o BC do gigante asiático. Os dois principais instrumentos são redução de juros hipotecas existentes (soa familiar?) e o corte na taxa de exigência de reservas em 0,50 ponto percentual (vai dar ideia). O mercado brasileiro gostou: bolsa subiu 1,22%, para 132 mil pontos, e o dólar caiu 1,35%, para R$ 5,463.
Como ONS vê economia do horário de verão
Depois de pedidos explícitos para que sustentasse tecnicamente a recomendação da volta do horário de verão, o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) publicou nota de 74 páginas.
Conforme o órgão que coordena o sistema integrado nacional de energia, o horário de verão poderá trazer redução de até 2,9% da demanda máxima noturna. Em valores, estima redução de custos com consumo de combustível para termelétricas de R$ 356 milhões, caso se confirme a menor previsão de chuva, e de R$ 244 milhões, caso haja mais precipitação de outubro a fevereiro de 2025.
O ONS ainda projeta que a redução estimada em cerca de 2 gigawatts na chamada "ponta de carga" (demanda x oferta) com a adoção do horário de verão permitiria deixar de desembolsar cerca de R$ 1,8 bilhão em um ano.
Essa conta considera a redução no pagamento feito a vencedores do leilão de reserva de capacidade feito em 2021. São usinas que ficam "de plantão" - daí a expressão "reserva" - para entrar em operação caso haja necessidade.
Todo esse custo é repassado para os consumidores nas contas de luz, por meio do sistema de bandeiras e pelos reajustes anuais da tarifa. _
Ata do Copom reforça desafio da inflação
A ata da reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) que anunciou um ciclo de alta do juro não trouxe alívio: veio ainda mais dura. Explicitou uma das preocupações do mercado citando a surpresa com o "pibão" do segundo trimestre e cravou: "esse ritmo de crescimento da atividade (...) torna mais desafiador o processo de convergência da inflação à meta".
Outro recado dialogou com as preocupações relacionadas ao quarto relatório bimestral de despesas e receitas, que levou o governo a desbloquear R$ 1,7 bilhão da contenção de despesas de R$ 15 bilhões do bimestre anterior. E avisou: "o esmorecimento no esforço de reformas estruturais e disciplina fiscal, o aumento de crédito direcionado e as incertezas sobre a estabilização da dívida têm potencial de elevar a taxa de juro neutra, com impactos deletérios sobre (...) o custo de desinflação em termos de atividade". Em bom português, o excesso de gastos pode levar a menor crescimento e maior desemprego. _
Lula tem de melhorar gestão climática para se impor
A tradicional abertura da Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU) já teve um presidente brasileiro falando enquanto o país ardia em chamas, em 2020. Ontem, o cenário se repetiu, mas mudaram as palavras.
Desta vez, as queimadas não foram atribuídas a "índios e caboclos" nem a uma conspiração internacional contra o Brasil. O problema é que discurso correto não basta, até porque saliva não apaga incêndio.
Outra vez, o Brasil chega à abertura da assembleia geral com imagem chamuscada, agora pela falta de efetividade no controle da devastação.
Lula voltou a afirmar que vai "erradicar" o desmatamento até 2030, mas é difícil projetar o alcance dessa meta sem um plano estruturado. Também afirmou que não terceiriza responsabilidades. É um avanço, mas falta dar consequência ao discurso.
Já se passaram quase dois meses de queimadas intermitentes, que, além de agravar a mudança do clima pelo acúmulo de emissões de carbono, ainda prejudicam a saúde das pessoas com fumaça.
Mais do que dar lições à ONU - que de fato precisa - o presidente precisa assumir a liderança do combate às queimadas em seu próprio país, neste momento ocupada pela autoproclamada autoridade climática que já age no país, o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Flávio Dino. _
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