segunda-feira, 30 de setembro de 2024



30 de Setembro de 2024
CLÁUDIA LAITANO

Nexus

Se você entende tanto de tecnologia quanto eu, pode estar se perguntando como a inteligência artificial pretende acabar com o mundo antes mesmo que os humanos consigam dar conta do recado sozinhos. Eliminando quase todos os empregos? Esculhambando a democracia? Disparando bombas nucleares e guerras bacteriológicas? ("Ops, foi mal aí. Aliás, sobrou alguém aí?")

O alarme soou em escala global no ano passado, a partir de uma carta-aberta assinada por centenas de líderes de empresas de tecnologia: "A inteligência artificial avançada pode representar uma mudança profunda na história da vida na Terra e deve ser planejada e gerida com cuidado e recursos proporcionais". Como é impossível prever os desdobramentos de uma ferramenta que evolui de forma tão acelerada, e em tantos lugares ao mesmo tempo, a natureza exata desse apocalipse high-tech ainda é matéria de especulação.

O novo livro do historiador Yuval Harari, Nexus (Companhia das Letras, 504 páginas), é o que na gíria das redações de jornal a gente chama de "bola ao centro": um apanhado de tudo que você deveria saber sobre inteligência artificial para entender por que tanta gente está preocupada com o futuro de uma tecnologia que, antes de destruir o mundo, pode encontrar a cura do câncer, diminuir o impacto das mudanças climáticas e combater a fome.

Se a ideia era chamar a atenção do maior número de pessoas para o assunto, ninguém melhor do que um autor que vendeu mais de 35 milhões de cópias dos seus quatro primeiros livros - entre eles, o best-seller Sapiens. Harari tem dois grandes méritos: sabe contar histórias e consegue traduzir assuntos complexos para o leitor comum. 

Para compor seu libelo contra o uso ingênuo e desregulado da inteligência artificial, o autor viaja até o princípio dos tempos para mostrar como novas tecnologias de transmissão de informação (o "nexo" do título) impactam a maneira como as sociedades se organizam - ou desorganizam. Spoiler: a emergência de computadores capazes de tomar decisões por conta própria muda completamente o modo como as redes de informação funcionaram desde que a vida começou neste planeta.

Para Harari, o avanço da IA deve ser acompanhado de mecanismos de correção de rota que aumentem a transparência, protejam a privacidade e levem em conta o fato de que nenhuma tecnologia é infalível: "Democracias podem regular o mercado da informação, e sua própria sobrevivência depende dessa regulação". Mas, para isso, nossa espécie vai precisar reaprender a conversar. _

CLÁUDIA LAITANO

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