quinta-feira, 21 de outubro de 2021


21 DE OUTUBRO DE 2021
DAVID COIMBRA

No que vai resultar a CPI

A tendência é de acreditarmos que, se Brizola fosse eleito presidente em 1989, a história do Brasil seria diferente nesses últimos 30 anos. Cito o Brizola porque ele tinha chances concretas de vencer. Deixou de ir para o segundo turno por um punhado de votos - foi campeão na Região Sul e no Rio, mas fracassou em São Paulo. Não dá para ter sucesso numa corrida dessas sem ter bom desempenho em São Paulo.

O Brasil estaria melhor se Brizola tivesse sido presidente? Impossível saber o que ocorreria na gestão de Brizola. Mas é possível de se adivinhar o que viria depois.

Porque o Brasil teve uma sorte, no meio de tantos azares: a ascensão de Itamar Franco ao poder, quando Collor renunciou. Itamar conseguiu trabalhar bem com o tal presidencialismo de coalizão. Reuniu as forças do país em volta dele e pôs os melhores no governo. Na prática, seu único opositor era o PT, que, na época, ainda não era tão forte.

Depois dele, Fernando Henrique e Lula conseguiram estabelecer o presidencialismo de coalizão, só que o cimento que unia as forças políticas em torno deles era um interesse muitas vezes espúrio. No caso de Itamar, nem tanto. No caso de Itamar, havia uma urgência em tentar salvar o Brasil que mobilizou os homens de boa vontade.

Então, se Brizola fosse eleito, e não Collor, não haveria Itamar e, não havendo Itamar, não haveria o Plano Real. Os 20 anos de prosperidade e paz que o Brasil experimentou a partir de 1993 foram patrocinados pelo Plano Real.

Mas há outro fator que me faz acreditar que o Brasil mudaria pouco com Brizola na Presidência: a História com agá maiúsculo. Marx dizia que a História se repete a primeira vez como tragédia e a segunda vez como farsa. Se conhecesse o Brasil, mudaria o axioma. Porque, no Brasil, a história sempre é uma farsa, mesmo que seja trágica.

Nós estamos sempre nos iludindo, nós, brasileiros. Primeiro, achamos que o voto nos redimiria. Por algum tempo, os tais 20 anos de paz e prosperidade, isso até aconteceu. Mas, ao mesmo tempo em que a economia do Brasil melhorava, as relações sociais se deterioravam. Um profundo fosso de ressentimentos foi cavado no país, tornando irreconciliáveis crenças políticas diferentes. Essa dissensão agravou a crise econômica, porque a oposição nunca é colaborativa, sempre é ácida. É difícil construir qualquer coisa no Brasil.

Mas a pior desilusão foi a da Lava-Jato. Por três anos, o Brasil foi um modelo mundial de combate à corrupção. A reação dos políticos, porém, foi forte e irreprimível. Eles se uniram para desmoralizar o juiz e os investigadores, e conseguiram. O país recuou para as sombras da sua impunidade histórica e as pessoas desanimaram.

Agora, a CPI da Covid termina com grande rumor. Parece algo importante. Mas todos sabem no que resultarão as denúncias e as diligências: em coisa alguma. A letargia brasileira é invencível. Aconteça o que acontecer, seremos sempre os mesmos. Estaremos sempre contemplando a grande farsa que é ser brasileiro.

DAVID COIMBRA

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