14 DE OUTUBRO DE 2021
ARTIGOS
POBREZA MENSTRUAL: É HORA DE AGIR
Imagine que a falta de um único produto coloque em risco sua saúde e impeça você de ir à escola ou ao trabalho. Pois esta é a realidade de milhões de mulheres que convivem com um drama pouco debatido até recentemente: a pobreza menstrual. Meninas e mulheres adultas que não têm acesso a absorventes descartáveis para conter o fluxo valem-se de alternativas como papel higiênico, roupas velhas e até mesmo jornais e miolo de pão.
Para fazer frente a essa realidade, o Congresso aprovou o projeto que cria o Programa de Proteção e Promoção da Saúde Menstrual, para oferecer gratuitamente absorventes às estudantes de baixa renda, presidiárias e pessoas em situação de rua ou pobreza extrema. O texto foi sancionado, mas, lamentavelmente, os trechos que estabeleciam justamente essa distribuição foram vetados.
É inadmissível que o Estado abdique de enfrentar este tema. É uma questão de saúde pública e de direitos humanos. Acima de tudo, é a garantia da dignidade para tantas mulheres, principalmente meninas e adolescentes. Pelo mundo, ações têm sido promovidas nesta questão: o Quênia oferece absorventes higiênicos para as mulheres do país, e a Etiópia estabeleceu clubes de gestão de higiene menstrual nas escolas. Por sua vez, Índia e Paquistão incluíram esse tema em suas agendas governamentais.
No Brasil, ações pontuais têm surgido em Estados e municípios. Mas precisamos de um programa nacional que combata essa realidade, sobretudo neste momento de crise econômica que vivemos: quando falta o mais essencial para nossa subsistência - carne, arroz e feijão -, itens como absorventes tornam-se artigos de luxo.
Que o Congresso reforce esta luta e derrube o veto, pois é preciso, sim, falar e agir sobre este tema. Promover a educação nas famílias e nas escolas para que um fenômeno natural do corpo feminino seja tratado com naturalidade, respeito e dignidade. Saber que a pobreza menstrual existe é um dever. Cabe a nós não perpetuarmos esse trágico silêncio.
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