O Brasil honesto
Transitou à margem do noticiário dos últimos dias, compreensivelmente concentrado na pandemia, na CPI da Covid e na inflação, um pequeno episódio ocorrido no interior de Santa Catarina, mais precisamente na cidade de Rodeio, onde funciona um comércio de alimentos sem funcionários nem qualquer pessoa para controlar as vendas. No Dr. Honesto, como o empreendimento é chamado, os próprios clientes pegam o que lhes interessa e pagam os valores afixados nos produtos, às vezes deixando um bilhete com a lista dos itens adquiridos para facilitar a reposição.
Dia desses, os repositores de mercadorias encontraram esta mensagem comovente: "Olá, vim através deste bilhete informar que peguei algumas coisas para o café com meus filhos. Mas não vou roubar. Quando tiver (dinheiro), prometo devolver. Obrigada". E seguiam-se as iniciais da mãe necessitada. Ela levou dois pães, um pote de doce de banana e um pacote de cueca virada - compras que, segundo o administrador do negócio, totalizariam cerca de R$ 30.
O Dr. Honesto é administrado pela Associação Beneficente Filantrópica Vida Nova, dedicada ao acolhimento de moradores em situação de rua. O presidente da entidade, Renato Lagatta, é também o autor da ideia de instalar um trailer de atendimento autônomo para vender mercadorias e arrecadar recursos para a instituição. De início, as pessoas acharam que era prejuízo certo, que roubariam até o veículo transformado em mercearia de beira de estrada. Porém, depois de dois anos de experiência, ele garante que 99% dos compradores agem com absoluta honestidade, pagando regularmente pelo que levam.
De certa forma, a mãe que pegou alimento para os filhos comprova a afirmação. Sem recursos para a própria subsistência, ela retribuiu com o que tinha de mais valioso naquele momento ao confessar sua condição de penúria. Pagou com a moeda da sinceridade.
E o Brasil honesto despertou o Brasil solidário. Tão logo o episódio foi divulgado, compradores habituais passaram a deixar mais dinheiro do que o valor de suas compras, informando por escrito que seria "para compensar o que a mãe pegou para alimentar a família".
Alguém ainda duvida que este país tem jeito?
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