quinta-feira, 14 de outubro de 2021


14 DE OUTUBRO DE 2021
+ ECONOMIA

Inflação subiu no mundo, mas aqui...

Enquanto não dá explicações detalhadas sobre os dólares que mantém no Exterior, o ministro da Economia, Paulo Guedes, segue pontificando sobre a inflação. Em pleno feriado, diagnosticou que a alta dos preços é generalizada em todo o mundo e que, no Brasil, os reajustes de alimentos e energia respondem por metade da subida nos índices inflacionários do país (veja quadro no final do texto).

É fato que a inflação sobe em todo o mundo, mas quanto? Uma comparação internacional da taxa acumulada em 12 meses mostra o Brasil em má companhia: o time dos dois dígitos tem representantes de países da África e repúblicas que faziam parte da antiga União Soviética. O que pode ser visto como exceção seria a Turquia com seus 19,58%.

Claro, existe o universo em que a inflação chega a três ou a até quatro dígitos, mas abrange apenas países quebrados, como a Venezuela - campeã mundial de inflação, com 2.720% -, ou atingidos por guerras ou conflitos constantes, como Sudão e Líbano. Na América Latina, a pior situação é a da Argentina com sua crise cambial - não há dólares suficientes para pagar todos os compromissos na moeda americana.

Nos mercados, a discussão do dia é a "alta" inflação nos Estados Unidos: subiu 0,4% em setembro. Para lembrar, a disparada no mesmo mês, no Brasil, foi de 1,16%, ambas no mês e em comparação ao período imediatamente anterior. Com esses resultados, o acumulado em 12 meses nos EUA é assustador para os padrões locais: 5,4%. Mas é quase a metade do indicador de mesma base no Brasil.

A conclusão óbvia é de que sim, a volta da inflação é um fenômeno mundial, como diz Guedes. No entanto, países com alguma gestão - não se pode nem falar em "boa gestão", considerando que o Paraguai tem inflação acumulada em 12 meses de 6,4% - sofrem menos com o problema do que o Brasil.

E apesar de os especialistas em preços confirmarem outra tese de Guedes - cerca de metade da alta da inflação está vinculada só a produtos e serviços de energia -, avisam que, ao contrário do que diz o ministro, o fogo do dragão se espalhou para toda a economia. É crucial ter um bom diagnóstico para garantir tratamento adequado. Guedes confunde o paciente e erra na profilaxia ao seguir relativizando a doença.

MARTA SFREDO

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