26 DE OUTUBRO DE 2021
OPINIÃO DA RBS
GÁS NATURAL E NOVAS PERSPECTIVAS
A privatização da Sulgás, adquirida pela Compass em leilão na sexta-feira na B3, em São Paulo, tende a produzir uma série de vantagens para o Rio Grande do Sul. Pela perspectiva do poder público, a alienação dos 51% de participação na companhia garantirá o ingresso de R$ 927,8 milhões nos cofres do governo gaúcho. É uma soma nada desprezível para um Estado ainda em situação financeira delicada, mas que com reformas, outras desestatizações e aumento da arrecadação vem conseguindo manter salários em dia e anuncia investimentos em áreas prioritárias para a população.
Ao longo dos próximos anos, tudo indica que a troca de comando e de gestão permitirá a ampliação da oferta de gás natural, tanto nas áreas já atendidas quanto nas regiões onde a Sulgás ainda está ausente, seja por novos ramais ou outras alternativas para a distribuição, como o transporte por caminhões. Hoje, como se sabe, a presença da empresa está demasiadamente concentrada entre a Região Metropolitana e a Serra.
Estatal criada em 1993, a Sulgás não tinha o histórico de problemas de outras empresas ligadas ao Estado, como as do Grupo CEEE. Pelo contrário, vinha se mantendo lucrativa, mas sem as condições de caixa necessárias para um plano mais ambicioso de investimentos, capaz de atender à demanda pelo insumo usado na indústria, no comércio, nas residências e nos automóveis e que tem um cardápio de vantagens, de econômicas a aspectos ambientais.
Esta maior capacidade será indispensável sobretudo quando for resolvido o obstáculo hoje existente pela limitação do volume de gás natural que chega ao Estado. Com um grande conglomerado por trás, que atua na área de energia e tem interesse em expandir a oferta, há naturalmente maior disponibilidade de recursos e apetite por ampliar o negócio. Ganhos de escala e diluição de custos, por outro lado, normalmente também significam maior possibilidade de valores mais em conta para o consumidor final.
Para os clientes, aliás, o menos importante é se uma empresa fornecedora é pública ou privada. Contam a qualidade do serviço prestado e a capacitação para dar as resposta exigidas pelo mercado de maneira ágil. Mas, mostra a experiência, uma gestão privada profissional, livre de interferências políticas e de amarras burocráticas típicas de estatais reúne melhores condições de ser eficiente e satisfazer a clientela. Mais investimentos e expansão da oferta ainda significam, ao fim, economia se movimentando e competitividade pelo maior uso do gás natural.
O fato de a Compass, do grupo Cosan, ter sido a única interessada na aquisição da participação de 51% do Estado na Sulgás não chega a ser exatamente uma surpresa. Era a candidata mais lógica, uma vez que também está em processo de aquisição do controle da Gaspetro, que detém os outros 49% na estatal gaúcha. Ambas as transações, é bom ressaltar, ainda serão examinadas pelo Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade). Só após a eventual aprovação do órgão dedicado a zelar pela concorrência é que o Estado receberá o pagamento.
Mas há, como exposto antes, um gargalo a ser solucionado para que todas as melhores perspectivas se confirmem. É preciso aumentar a disponibilidade de gás natural no Rio Grande do Sul para que se possa ampliar a distribuição, hoje estagnada nos cerca de 2 milhões de metros cúbicos por dia, capacidade do gasoduto que chega ao Estado. É um debate que se prolonga há mais de duas décadas, sem que as alternativas aventadas se materializem.
Ressurgiu, nos últimos meses, a possibilidade da construção de um terminal de gás natural liquefeito (GNL) associado a uma usina termelétrica em Rio Grande, processo que passa por etapa de licenciamento ambiental. São aguardadas, para os próximos dias ou semanas, novidades que podem indicar desfecho positivo para essa novela também cheia de idas e vindas há 13 anos.
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