sexta-feira, 15 de outubro de 2021


15 DE OUTUBRO DE 2021
DAVID COIMBRA

O novo esquema do Grêmio

Acho que não gostei muito desse novo esquema do Grêmio com UM zagueiro. O Kannemann teve de se escabelar de um lado para outro feito aquele garçom que atende a todas as mesas sozinho - quando ele anota um pedido aqui, o outro já está chamando ali. E o Lucas Silva, na frente dele, se esfalfou tanto que saiu rengueando. O melhor mesmo é a ortodoxia, é jogar com dois. Quando é que o Geromel volta, pelo amor de Deus?

O Grêmio desaprendeu um princípio acaciano do futebol, da guerra e do xadrez: é dominando o centro que se vence. O Grêmio esvazia seu meio-campo, quando devia recheá-lo como se recheia com sarrabulho o peru do Natal. Contra o Fortaleza, a rigor, tinha dois jogadores neste setor: Lucas Silva, que, como já disse, saiu puxando uma perna, e Darlan, que pelo menos botou a bola na grama. É pouco. Por isso, o Fortaleza chegava com naturalidade à entrada da área. Não fosse esse jovem e grande goleiro com nome de general celta, Brenno, a derrota seria por três ou quatro gols.

Todos os times importantes da história do futebol tinham meio-campistas iluminados. Caçapava, Falcão e Carpegianni, com o auxílio luxuoso de Valdomiro, no Inter dos anos 70. Andrade, Adílio e Zico, com os apoios de Tita e Lico, no Flamengo campeão do mundo, Dinho, Goiano, Arilson (ou Emerson) e Carlos Miguel no Grêmio dos anos 90. Michel, Maicon, Luan, Douglas e Ramiro no Grêmio de Renato. E o maior time do mundo de todos os tempos, a Seleção de 70, não por acaso era um enorme meio-campo: Piazza, Clodoaldo, Gérson, Rivellino, Pelé e Tostão eram meio-campistas de fidalguia e estilo.

Em 2015, no tempo em que ainda dava alguma atenção às redes sociais, escrevi no Facebook ou no Twitter, não lembro, uma pequena nota em que dizia que Romildo Bolzan entendia de clube, não de futebol.

Quando o Grêmio estava na sua fase vencedora, os gremistas recuperaram essa nota e caíram sobre mim, mordendo como se fossem as palometas que ameaçam subir o Rio Jacuí. Agora, há quem reconheça que talvez eu estivesse certo.

Pois vou dizer: me surpreendi com a habilidade de Romildo, nesses anos todos. Em primeiro lugar porque, de fato, ele entende de clube. Soube sanear as finanças e organizar a administração. Como um bom líder, delegou poderes nas áreas em que ele tinha menos segurança, como o futebol. Renato era mais do que técnico. Era, na prática, o diretor, o vice-presidente, o suserano do vestiário. Era demais para ele. Seria para qualquer um.

Aí é preciso fazer uma ressalva: todo mundo entende de futebol, no Brasil. Só que o futebol profissional se sofisticou muito. Atuo há quase 40 anos nessa área e vi a mudança. A partir deste século, o futebol se tornou global. Grandes clubes, com grandes torcidas, movimentam grandes fortunas. O espaço para os diletantes ficou reduzido.

Dependente do Renato, a estrutura diretiva do futebol do Grêmio tornou-se precária, até porque um técnico tem muita coisa a fazer, não pode dar atenção a tudo. Vamos tomar como exemplo um único setor: a zaga. O Grêmio tinha uma das melhores duplas de zaga do planeta, Kannemann e Geromel. Mas, na reserva, apostou em Fred, Bressan, David Braz, Paulo Miranda, Ruan, Rodrigues, entre outros menos cotados. É a crença inexplicável de que "para a reserva esse jogador serve". Como se ele só ficasse sentado no banco e nunca fosse jogar. Só por esse erro, por não buscar substitutos competentes para Kannemann e Geromel, o Grêmio perdeu alguns títulos. E o pior: não aprendeu nada com isso. Tanto que, na quarta, jogou com esse esquema novo, de novo: um único zagueiro. Não podia mesmo vencer.

DAVID COIMBRA

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