quinta-feira, 14 de outubro de 2021


14 DE OUTUBRO DE 2021
OPINIÃO DA RBS

Inflação e fatores internos

São recorrentes os sustos dos brasileiros ao conferir a conta de energia, ir ao supermercado ou a um posto de combustíveis. É o fenômeno da inflação corroendo a renda da população como há muito não se via. Medido pelo IBGE, o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) encerrou setembro com uma alta de 10,25% em 12 meses e, por enquanto, há apenas projeções de que a escalada das remarcações será menos intensa. 

Mas permanecerá. A expectativa do mercado, demonstrada pelo Boletim Focus, do Banco Central (BC), é de que o IPCA encerre o ano com uma alta acumulada de 8,59% e, em 2022, avance mais 4,17%. Ou seja, em meio a um ambiente de economia e mercado de trabalho ainda claudicantes, os aumentos seguirão, embora em ritmo menor. Há espaço e premência de o governo federal agir para conter a sangria do poder aquisitivo dos cidadãos.

É verdadeiro que a inflação é hoje um evento global. No Brasil, entretanto, se apresenta ainda mais forte, devido a questões internas e que poderiam ser melhor administradas pelo Executivo, com o apoio do Congresso. A alta de preços no país é mais do que o dobro do verificado na média das nações do G-20, 4,5% em 12 meses, e das que integram a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE): 4,3%.

Há a contribuição negativa da escassez de energia. O Planalto não tem culpa pela falta de chuva que diminuiu o volume dos reservatórios das hidrelétricas, mas demorou para admitir a gravidade da situação - que já despertava a atenção de especialistas um ano atrás - e alertar a sociedade para a necessidade de consumo racional de luz. Mas o grande vetor de contaminação inflacionária no Brasil, sem dúvida, está no câmbio. 

Em linhas gerais, economistas avaliam que, para voltar a fortalecer o real, o governo teria de atuar em ao menos três frentes. Em primeiro lugar, acenar com o compromisso de apoiar versões robustas das reformas tributária e administrativa. Seria um passo na direção de demonstrar na prática engajamento à tarefa de melhorar a competitividade da economia nacional, via simplificação do cipoal tributário, e a produtividade do setor público. Depois, demonstrar maior firmeza com a responsabilidade fiscal e menores tentações populistas. Por fim, colaborar para que cessem definitivamente as tensões políticas e institucionais.

São esses três fatores que, até aqui, têm feito o real se desvalorizar mais em relação à maior parte das moedas, influenciando preços de combustíveis, alimentos e insumos para uma série de produtos utilizados no dia a dia dos brasileiros. É indispensável sinalizar responsabilidade e serenidade para conter o aumento da percepção de risco. Caso contrário, o BC terá de trabalhar solitário, com o aumento do juro, o que por outro lado é uma trava para a retomada da economia. 

A inflação é um mal que castiga principalmente as famílias de baixa renda, mas espalha efeitos nocivos para toda a economia. O combate à carestia depende do empenho na manutenção da sustentabilidade das contas públicas, da responsabilidade institucional e do compromisso com reformas mais ousadas e à altura das necessidades do país. A partir desse tripé, surgirão naturalmente melhores condições de a atividade deslanchar.

OPINIÃO DA RBS

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