27 DE OUTUBRO DE 2021
MÁRIO CORSO
Nem Lula, nem Bolsonaro
Estou terminando o livro Antifrágil - Coisas que se beneficiam com o caos, de Nassim Nicholas Taleb. Gosto do autor, embora creia que seu pensamento seja desigual: às vezes muito lógico e baseado em evidências, em seguida saca do bolso uma narrativa anedótica e coloca no mesmo nível do que vinha sendo dito. Mas, no geral, esse pensador inclassificável não decepciona, ninguém sai de mãos vazias de seus livros.
Nesse livro ele debate e nos expõe um conceito inusual: a antifragilidade. Quando descrevemos algo como frágil, queremos dizer que é algo que pode se quebrar, se desfazer, caso sofra uma perturbação. Pensamos o antônimo dele como algo que suporta acidentes preservando a mesma forma, saindo sem cicatrizes de uma experiência. A melhor palavra para isso seria resiliência. Este conceito quer dizer que algo, ao sofrer um golpe, volta à forma anterior sem deixar marcas.
Pois bem, diz o autor, mas resiliência não é o avesso de fragilidade. A verdadeira oposição à fragilidade é algo que, ao sofrer um acidente, saiu-se melhor depois dele. Ou seja, algo que aproveita-se da adversidade para crescer e aperfeiçoar-se. Este objeto, conceito ou pessoa seria o que ele chama de antifrágil.
Para ele, a resiliência seria como um estágio neutro. Como em eletricidade, o contrário de positivo é o negativo e não o neutro, embora este último se oponha aos dois.
É preciso ler o livro, existem muitas nuances. Por exemplo, a natureza, no sentido dos seres vivos, é muito frágil, mas no conjunto é antifrágil. A soma dos sofrimentos individuais leva a um coletivo mais forte. Assim foi, e segue sendo, a evolução da vida no planeta.
Um avião é frágil, mas cada desastre reduz a probabilidade de que outros aconteçam. Os erros são corrigidos, incorporados, e o sistema como um todo é muito seguro.
Essa introdução é para lembrar ao pessoal do "nem Lula, nem Bolsonaro", que ambos os candidatos são notavelmente antifrágeis. Você bate e eles crescem.
Não quer dizer que, caso se queira, não possam ser derrotados. Mas, neste caso, a estratégia precisa de mais inteligência. Ficar demonizando-os, não construirá nenhuma alternativa.
Os candidatos a representar a dita terceira via não se firmam por se restringirem a discursos negativos: dizem não sou isto ou aquilo, ao invés de a que vêm. O país está quebrado e sem rumo. A inflação voltou, há milhões sem emprego e milhões passando fome. Digam o que vão fazer. Quais são as propostas? Qual o projeto para o país?
Bolsonaro foi eleito para evitar o PT e o país ficou pior. Um projeto apenas para tirar Bolsonaro tenderia à repetição do erro.
A população escuta a turma do "nem nem" com mais um "nem": nem Lula, nem Bolsonaro, nem tenho uma saída para a crise.
A terceira via não se funda porque não diz nada palpável.
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