05 DE SETEMBRO DE 2020
FLÁVIO TAVARES
LOBO VACINADO?
O feriado da Independência obriga a pensar com seriedade no futuro, para que o lema "Pátria Amada", do hino, não seja apenas algo artificial e postiço, repetido como propaganda a esmo, mas uma realidade em si. Daí surge a pergunta: que projetos concretos desenvolveu o governo nesses 20 meses?
A não ser retirar o radar das rodovias e aproveitar a pandemia para "passar a boiada" e, assim, facilitar a degradação do meio ambiente, o fato mais visível foi a homenagem ao lobo-guará, que agora pulará do nosso bolso para o consumo diário.
A nova cédula de R$ 200 pode não ser, apenas, indício prévio de eventual inflação que faça ressurgir o monstro da desvalorização monetária. Mas não falamos disto por quê? Por medo?
As grandes transações são bancárias e, assim, a cédula do lobo-guará se presta, mais do que tudo, para facilitar a propina usual típica do conluio entre empresas e políticos ou altos funcionários, onde só se negocia em dinheiro vivo. O lobo-guará é um carnívoro voraz e desponta na nova cédula como fantasma para extinguir a estabilidade financeira obtida a partir do governo de Itamar Franco.
Esse animal de pelugem vermelha vive hoje no cerrado central do Brasil, mas já habitou o pampa gaúcho, no qual foi extinto pela bestialidade da chamada "caça esportiva", que mata pelo prazer de eliminar o belo. Resta ainda no pampa uruguaio.
Vale indagar: o lobo-guará que ressurge estará vacinado contra a inflação?
Ou algum governante tirano tentará tirar do lobo-guará a "liberdade" de não se vacinar?
Após Bolsonaro frisar que, na pandemia atual, "ninguém pode obrigar ninguém a se vacinar", a Secretaria de Comunicação da Presidência lembrou que obrigar "é ato dos tiranos", como se, em vez de prevenir e salvar, vacinação fosse castigo ou tortura.
No planeta inteiro, cientistas se dedicam a pesquisar vacinas que previnam o contágio pela brutalidade do coronavírus, mas, no Brasil, o presidente da República prega (mesmo indiretamente) abandonar a vacinação. Com isto, tumultua os cuidados no combate à peste e contraria a própria missão do Estado de preservar a saúde da população.
Pode parecer banal indagar de onde vem esse tom ranzinza de Bolsonaro, que vê pelo espelho retrovisor tudo que está à frente, como se avançasse para trás. Ou como se (para conservar o calor) guardasse a garrafa térmica na geladeira.
Ainda no atual mandato presidencial, o Brasil completará 200 anos de independência, em que acumulou êxitos e desastres. Os governantes, porém, seguem com a mentalidade do atraso, contrariando até o óbvio e, assim, se tornam lobos vorazes e não vacinados.
FLÁVIO TAVARES
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