05 de dezembro de 2013 |
N° 17635
EDITORIAIS ZH
UM DILEMA NACIONAL
Poucas vezes um estudo deu uma
ideia tão realista da dimensão dos dramas provocados pelas drogas no país, como
o Levantamento Nacional de Famílias dos Dependentes Químicos (Lenad Família),
feito pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), divulgado esta semana.
Um dos diferenciais do estudo é o de não se restringir a quantificar a tragédia
constituída pelo elevado número de usuários e a violência que costuma estar
associada ao narcotráfico. O que chama particularmente a atenção é o elevado
número de pessoas com seu cotidiano prejudicado de alguma forma por dependentes
químicos. A situação indica que, além de não ter conseguido atender
satisfatoriamente quem já se escravizou às drogas, o país segue devendo algum
tipo de ajuda mais eficiente para seus familiares e pessoas próximas.
Divulgado dois anos depois do
lançamento do programa federal Crack, é Possível Vencer, que se comprometia,
entre outros aspectos, a garantir assistência para dependentes, o estudo mostra
um quadro ao mesmo tempo desolador e desafiador. Nada menos de 28 milhões de
brasileiros, por exemplo – quase o equivalente a toda a população de um país
das dimensões do Peru –, convive com algum usuário.
Em muitos casos, essas pessoas
são submetidas constantemente a agressões verbais e até físicas, têm seu
patrimônio pessoal dilapidado e sofrem pressão psicológica constante, a ponto
de muitas se abalarem emocionalmente com gravidade. São situações das quais
dificilmente alguém consegue sair sozinho, o que demanda mais atenção por parte
da sociedade e do poder público.
Alguns dados apontados pela
pesquisa não deixam dúvida sobre o grau de desestruturação familiar em
consequência do problema: nada menos de 58% dos entrevistados com algum usuário
de drogas na família, por exemplo, têm afetada a habilidade de trabalhar ou
estudar. E, o que é igualmente preocupante, 29% dos que foram consultados estão
pessimistas quanto ao seu futuro imediato. Esses percentuais poderiam ser menores
se o país tivesse se preocupado mais em investir em prevenção.
Chama a atenção na pesquisa que
metade dos entrevistados sequer sabe o que são os Centros de Atenção
Psicossocial Álcool e Drogas (CAPs) – unidades do Sistema Único de Saúde (SUS)
criadas para prestar atendimento aos dependentes químicos. E, o que é mais
grave, mesmo quem tem conhecimento dessa alternativa não a utiliza como
deveria. O país continua devendo assistência efetiva não apenas aos usuários de
drogas, mas também a seus familiares, além de informações mais precisas sobre a
quem podem recorrer em situações de crise.
Nenhum comentário:
Postar um comentário