Jaime Cimenti
O timaço do Luís Augusto Fischer
Coruja, Qorpo-Santo & Jacaré - 30 perfis heterodoxos (L&PM, 192 páginas) é o título do livro mais recente de Luís Augusto Fischer, ensaísta, escritor, doutor em Literatura, professor da Ufrgs, colunista do jornal Zero Hora e colaborador de jornais como a Folha de S. Paulo. A obra nasceu para marcar a circunstância de Fischer ter sido o patrono da 59ª Feira do Livro de Porto Alegre. Para o autor, o título, bolado há muitos anos, tem uma agradável cara de escalação de um meio de campo de qualidade.
Os apelidos de três escritores gaúchos da predileção de Fischer motivaram a concepção da obra, que se inicia com o perfil de Antônio Álvares Pereira Coruja, o professor e cronista autor do clássico Antigualhas, primeiro depositante da Caixa Econômica Federal e primeiro brasileiro a escrever uma gramática para ensino e termina com o emocionado e agradecido texto sobre o lendário Jerome David Salinger, autor do imortal romance O apanhador no campo de centeio.
Os 30 componentes do time de Fischer são falecidos, mas a tarefa do biógrafo ou do autor de perfis é essa mesma: colocar os desaparecidos na rua, para circular entre nós e mostrar que as pessoas só morrem quando ninguém mais lembra delas. O autor nos faz lembrar Luiz Sérgio Metz, o Jacaré, precocemente falecido e autor de Assim na terra, reeditado há poucos dias.
Augusto Meyer, Caio Fernando Abreu, Barbosa Lessa, Erico Verissimo, Dyonélio Machado, Joaquim Felizardo, João Cabral de Melo Neto, Gilberto Freyre, Nelson Rodrigues, Lima Barreto, Roberto Arlt, Jorge Luís Borges, Edgar Allan Poe, Qorpo Santo, Aníbal Damasceno Ferreira, Moacyr Scliar, Décio Freitas, Carlos Reverbel, Paulo Hecker Filho, Raymundo Faoro, Theodemiro Tostes, Celso Pedro Luft, Oliveira Silveira, Vianna Moog, Jaime Caetano Braun, Aparício Silva Rillo e Guilhermino César são os outros integrantes da seleção só de craques, que parece a de Felipão. Com linguagem coloquial, como quem proseia, Fischer mescla bem erudição com leveza e aspectos curiosos das vidas e obras dos seus autores de cabeceira.
São aulas bem-humoradas de literatura, dando oportunidade de relembrar o humor de Carlos Reverbel, visões novas sobre Dyonélio Machado, os mais de 200 anos de Edgar Allan Poe, a inteligência, a eficácia, a cordialidade e a criatividade de Moacyr Scliar, o tamanhão de Raymundo Faoro e sua obra, as mil viagens coloridas de Caio Fernando Abreu e muito, muito mais, desses mundos de ideias, palavras, pessoas, histórias e espaços infinitos.
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