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quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012
02 de fevereiro de 2012 | N° 16967
ARTIGOS - Stephen Stefani*
Os desafios do câncer
Dia 4 de fevereiro, Dia Mundial Contra o Câncer, é um dia para conscientização sobre uma doença cercada de desafios. Cerca de 7,6 milhões de pessoas morrem de câncer por ano no mundo. A Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que até 2020 podemos chegar a 16 milhões. Destes, 70% em países em desenvolvimento.
O Rio Grande do Sul amarga uma posição desconfortável de líder na incidência (novos casos) e prevalência (casos existentes) de câncer. É verdade que esses números podem ser devido à expectativa maior de vida (as pessoas vivem o suficiente para ter mais risco) ou de registros (que podem ser subestimados em locais de epidemiologia menos cuidadosa), mas inequivocamente estamos pagando o preço por décadas de maus hábitos, como tabagismo, uso abusivo de álcool e exposição inadequada ao sol.
De qualquer forma, possivelmente pelo diagnóstico em pessoas públicas, a doença tem sido menos estigmatizada. Não quer dizer que não assuste. Pelo contrário, assusta mais do que várias outras doenças de prognóstico até pior.
O avanço se deve a maior informação sobre prevenção, detecção precoce, diagnóstico e tratamento. Atualmente, com técnicas sofisticadas já existentes no país, é possível aumentar as taxas de cura para níveis excelentes. Muitos tumores malignos detectados mais precocemente são curados em mais de 90% das vezes.
Exames sofisticados, como PET CT, permitem avaliar a extensão de alguns tipos de câncer de forma a direcionar manejo mais adequado. A radioterapia, antes associada a desconfortos, com avanço tecnológico consegue atingir seus objetivos com menos interferência fora do alvo. As quimioterapias, algumas já disponíveis por via oral, já não são tão desgastantes, com menos efeitos colaterais e melhores resultados. Estamos aprendendo a “mirar melhor”.
Mas, infelizmente, seguimos amargando a iniquidade. A medicina considerada estado da arte ainda é para menos de 20% da população que tem um bom plano de saúde.
A maioria dos tipos de câncer tem forte correlação com hábitos que a população já sabe que aumentam riscos, como tabagismo, alcoolismo e exposição inadequada ao sol. Mesmo assim, ainda temos número assustador de pessoas que não consegue sair deste cenário. Temos vários motivos para isso. Talvez os mais presentes sejam a falta de acesso a serviços interdisciplinares que ajudem a mudança de hábitos.
Ainda mais cruel é a cena de pacientes com diagnóstico recente que levam várias semanas para conseguir atendimento especializado. São queixas justas, uma vez que a subalocação de recursos para essas áreas é reconhecida. O desafio para os próximos anos é aproximar o real do ideal. De outra forma, pouco adianta cada passo que conseguimos.
*Médico oncologista
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