sábado, 10 de dezembro de 2011



10 de dezembro de 2011 | N° 16913
PAULO SANT’ANA


O Ibirapuera

Tinha me esquecido do chato plantado. Plantado porque se planta no local, chega de fininho no ambiente não pronuncia sequer uma palavra, mas fica imóvel, chamando a atenção de todos.

Não se sabe o que se vai fazer com ele. E ele, quieto, impávido, atento a tudo, mas sem participar de nada.

O chato plantado paralisa totalmente o ambiente. O chato plantado se diferencia dos outros chatos porque os outros chatos dependem essencialmente das conversas, este não: ele faz do silêncio a sua tática única de chateação.

Se ele dissesse alguma coisa, ainda se poderia salvar o constrangimento reinante, mas ele não diz absolutamente nada.

Alguns tentam anular o chato plantado fingindo que o desconhecem. Pode ser que assim ele vá embora.

Mas ele permanece inflexível, completa a moldura da sala com a sua mudez e ar de mistério impenetrável.

Ele dá visíveis sinais de que está se realizando com aquele impasse, mostra um ar triunfante de que desta vez acertou na mosca a sua chatice.

Todos os dias, eu topo com um chato plantado em diversos lugares.

O Auditório Araújo Vianna era um espaço degradado dentro da degradação do Parque Farroupilha, que há dezenas de anos vem sendo pilhado pelos vândalos e marginais.

Mas, agora, a Oi, empresa de telefonia e comunicação, custeou a obra de regeneração do Auditório Araújo Vianna, e a inauguração do sistema de luzes está sendo marcado com festividade para o dia de hoje, quando a Oi entregará à coletividade a iluminação especial de Natal do Araújo Vianna, um presente para Porto Alegre, em ato que está marcado para as 19h, que terá a presença do prefeito da cidade.

Os equipamentos públicos dependem vitalmente da atividade das empresas privadas para subsistirem.

Estive esses dias em São Paulo para visitar meus netos. Pude ficar encantado com o Parque Ibirapuera, cujo único e essencial segredo é a cerca que o circunda inteiramente. Todos os dias, invariavelmente todos os dias, o Ibirapuera é a atração máxima da cidade de São Paulo, acorrendo para seus recantos milhares de citadinos.

Chega a dar dó a comparação entre o Ibirapuera e a Redenção. Enquanto no Parque Farroupilha todos os monumentos e recantos são literalmente demolidos durante a noite, no Ibirapuera, fechado durante a noite, mal surgem as manhãs e ele é oferecido intacto com seus serviços à população.

A tacanhez porto-alegrense não tem permitido nesses anos todos que se cerque a Redenção e se a torne o espaço de praças mais rico da cidade.

A reação ao cercamento começa incrivelmente numa entidade-fantasma, chamada, ao que me parece, de Associação dos Moradores do Bom Fim. Eu não sei o que o Bom Fim tem a ver com a Redenção que não seja somente a vizinhança.

A Redenção não é do Bom Fim, a Redenção é de Porto Alegre, que tem o dever de mandar cercar esse que é potencialmente o parque mais querido dos porto-alegrenses.

É vital que o parque seja cercado, fechado durante a noite e aberto ofertante todas as manhãs.

É vital, é inadiável, é talentoso e inteligente que o Parque Farroupilha seja cercado.

Eu não entendo como pode ter sido tão triunfal até agora esta mentalidade bizarra de um parque central não cercado.

Eu e as pessoas de bom senso não entendemos.

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