terça-feira, 6 de dezembro de 2011



06 de dezembro de 2011 | N° 16909
PAULO SANT’ANA


Cachorro-quente

Alô, alô, Eduardo Melzer, vice-presidente executivo da RBS, com sua prestimosa ajuda já está à venda no bar da Rádio Gaúcha o cachorro-quente que foi invenção minha.

A salsicha tem 21cm, o pão é macio, e contém molho de tomate com cebola, milho verde, ervilhas, queijo ralado e batata palha, um sonho que os funcionários da Zero Hora, da Rádio Gaúcha e do Diário Gaúcho acalentavam havia 40 anos.

O preço desta iguaria é de apenas R$ 4.

Sabem por que eu luto pelo cachorro-quente? Porque Porto Alegre nunca teve um ótimo cachorro-quente.

Tem o do Rosário, mas não cai no meu gosto. Na verdade, há dois anos que eu como cachorro-quente dia sim, dia não, numa carrocinha que eu indico: fica na esquina da Getúlio Vargas com a Barão do Gravataí. Ainda não é também do meu gosto, mas me é muito palatável.

Vez por outra, dou-me a uma extravagância: peço duas salsichas entre o pão. Depois, ponho molho de cebola com tomate, ervilhas, milho verde, às vezes alface, recuso sempre a batata palha, ainda mais agora que me anda dramaticamente escassa a saliva.

Na verdade, o cachorro-quente clássico que se conhece nos Estados Unidos é só pão, salsicha e mostarda. Mas Porto Alegre nunca me ofereceu um pão e uma salsicha de qualidade que me exigissem somente a mostarda.

Então, eu sigo o gosto comum das pessoas: encho o pão de molho e dos outros ingredientes, de tal forma que o cachorro-quente, que deveria essencialmente constituir-se só num lanche, para mim tornou-se também uma refeição.

O Léo Gerchmann foi quem me contou esta fábula judaica. Um rabino foi até Deus, o Jeová das Sagradas Escrituras, e perguntou-lhe qual era a diferença entre o céu e o inferno. Deus levou o rabino até o céu e o inferno.

No inferno, havia no centro de um salão uma grande grelha com assados apetitosos. Aos frequentadores, foram dados garfos de dois metros de comprimento. Eles trincavam os garfos nas carnes assadas, mas não podiam conduzir os churrascos até as suas bocas, em face do comprimento dos garfos.

Então, Deus conduziu o rabino até o céu, havendo lá outros frequentadores e os mesmos garfos compridos. A diferença é que no céu os convivas alcançavam para as bocas uns dos outros os pedaços assados.

O céu, portanto, era um lugar propício para as pessoas que se ajudam umas às outras, foi isso que quis explicar Deus ao rabino.

O ensinamento básico desta fábula é que a gente faz do céu um inferno.

Ontem, fui obrigado a comer depressa dois quindins, porque o índice glicêmico que tinha era muito baixo e eu estava tendo tonturas.

Dois quindins devorados às pressas, até vontade eu não tinha de comer os quindins.

Exótico doce esse quindim, criado pela culinária portuguesa, que, como se sabe, se consagrou no mundo inteiro com doces feitos à base de ovos.

Na cúpula do quindim, ficam as gemas. Na base do quindim, o coco queimado em banho-maria.

Primeira vez na minha vida em que como um doce sem ter vontade de comê-lo, tudo por causa das minhas urgências glicêmicas.

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