terça-feira, 6 de dezembro de 2011



06 de dezembro de 2011 | N° 16909
LUÍS AUGUSTO FISCHER


Cheiro de Natal

O senhor não vai acreditar, mas eu agora mesmo parei de responder uma entrevista sobre Nelson Rodrigues – ano que vem será seu centenário de nascimento, motivo de festa grande no arraial da literatura – e fui preparar meu mate. Desculpe perguntar: o senhor diz “mate” ou diz “chimarrão”?

Na minha infância e no meu meio social e cultural (anos 1960, classe média-média do Quarto Distrito e descendente de alemães, respectivamente), se dizia “mate” para o mate doce, e “chimarrão” para o sem açúcar, o amargo; mas isso não é, aprendi depois, uma distinção unânime, porque na dita Metade Sul creio que o uso varia entre mate e mate doce. Eu acabei optando por mate, genericamente.

Foi abrir o pacote da erva e dali evolar-se – quase igual a “voar”, sim – o cheiro característico; uma sinapse a mais e a memória me levou longe, não a um antigo mate, mas aos antigos presépios de Natal. Na minha família, as figuras eram de gesso pintado e a gruta era papel imitando pedra, mas havia lugar para lago de espelho com patinhos e o cheiro da erva-mate, para fazer o papel de grama, de piso do cenário todo.

E aquele cheiro, este cheiro, ficava no ar pelo mês todo, até o dia de Reis, dia 6 de janeiro, quando as figuras voltavam para a caixa costumeira, para a temporada anual de repouso.

Outros cheiros se mobilizaram no arquivo morto da minha cabeça. O cheiro suado do monte de dinheiro velho que o leiteiro carregava no bolso e tirava, a cada cliente visitado (em épocas de pouco leite, ele visitava primeiro os apartamentos com crianças). O cheiro das plantas quando molhadas, no fim da tarde quente.

O cheiro da casa da praia fechada, assim que se chegava lá, depois do Natal; diretamente proporcional e ele, o cheiro da casa da cidade fechada por um mês inteiro, assim que se voltava das férias de verão.

O leitão assado da véspera; os papéis de embrulho dos presentes; os presentes de madeira ainda com um pouco de pó, os tecnológicos marcados por algum óleo, as roupas ainda com cheiro de tinta. Mas como o cheiro natalino da erva do presépio, não tem – e deve ser só nosso, gaúcho, ainda por cima.

O “mesmo”: devo registrar que assim que saiu a crônica de duas semanas atrás, falando daquela deselegante frase de advertência à entrada dos elevadores – frase que não teve o poder de evitar a trágica morte de uma senhora, semana passada –, recebi dois e-mails bem-educados e esclarecedores.

Um de Celito Brugnara, dando conta de que já há legislação estadual nova, de abril de 2010. A mensagem agora é muito mais decente: ATENÇÃO: ANTES DE ENTRAR, VERIFIQUE SE O ELEVADOR ESTÁ PARADO NESTE ANDAR. Outro de Marcelo Rosa, comunicando que a empresa Thyssen Krupp se livrou daquela redação ruim.

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