terça-feira, 6 de dezembro de 2011



06 de dezembro de 2011 | N° 16909
FABRÍCIO CARPINEJAR


Irresistível

Três imagens perturbam seriamente os homens.

1ª – A calcinha nos tornozelos.

2ª – A alça do sutiã deslizando pelos ombros.

3ª – O turbante na cabeça na saída do banho.

Formam a santíssima trindade de um relacionamento. Podem vir, depois, TPM, DR, sogra, que a gente aguenta. São paisagens domésticas, lindas, que indicam o quanto nos aproximamos do universo feminino. Se atingirmos a trinca com uma única mulher, nossos olhos estarão grávidos e casaremos. Aceitaremos casar.

A primeira cena sempre foi um fetiche dos amantes, momento derradeiro do sim. Tristes os casais que não se tiram a roupa, tristes os casais que se despem sozinhos e chegam prontos ao ato. Sexo promissor é strip pôquer, combinando desafio, provocação e malícia. Você tira a blusa dela, ela tira sua camisa, você tira a saia dela, ela tira sua calça. Já começam a relação se ajudando – um indício de cuidado e amor no futuro.

Quando uma mulher deixa, então, você baixar a calcinha, demonstra um absoluto voto de confiança. O melhor é quando a peça fica presa nos joelhos e ela levanta um pé de cada vez, como quem pula corda, para se desembaraçar por completo das vestes. Não há como resistir, trata-se de uma dança que culminará em longo abraço.

A segunda cena é sutil e não menos agradável. É coisa de café da manhã. Ela está com uma roupa leve, camisetão branco, muito diferente da produção da noite passada. Não sabe mais escolher como gosta dela; talvez perdeu a censura, talvez ela superou as expectativas. Descobriu que não há como pensar e sonhar ao mesmo tempo; e desiste de pensar.

A deusa pega iogurte e sucrilhos. Você não é mais humano, mas uma câmera registrando os mínimos movimentos. Cliquecliqueclique. Na hora de sentar, o fio do sutiã escapa e o ombro dela brilha como a Pedra do Arpoador.

O caimento da alça gera uma surpreendente declaração de fidelidade masculina. Assim como ela arrumaria sua gola torta, você cai na cilada e levanta a alça. Ela percebe que nada mais escapa de seu olhar. Você se importa muito com ela. Você é agora ela.

A última cena é a mais sublime. Ela não tem vergonha de sua avaliação, acostumou-se com sua companhia, permite que assista aos bastidores do espelho. Sua paixão sai do banho com uma toalha presa nos seios e uma enrolada nos cabelos recém-lavados.

Apesar de abobado pela intimidade, preste atenção na perfeição do nó da toalha da cabeça. É o cadarço que nenhum marmanjo aprendeu a amarrar, que nenhum escoteiro decorou, é o que fará uma mulher prender você a vida inteira.

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