segunda-feira, 5 de setembro de 2011



05 de setembro de 2011 | N° 16816
L. F. VERISSIMO


Milagre

Deus colocou uma barra de ouro na cabeceira de um rabino, que quando acordou e viu o que Deus tinha feito ergueu as mãos para o alto e disse:

– Senhor, quem sou eu para receber esta dádiva?

E, diante do silêncio de Deus, o rabino continuou:

– Quem sou eu para ser distinguido desta maneira?

E:

– Quem sou eu para enriquecer assim, da noite para o dia?

E disse mais:

– Quem sou eu, pobre de mim, para merecer um presente tão precioso, quando tantos mais necessitados do que eu não receberam?

E mais:

– Quem sou eu, Senhor, na minha humildade, para ser abençoado por este milagre?

E Deus ficou tão impressionado com os protestos reincidentes do rabino que falou:

– Talvez eu tenha mesmo me enganado, e essa barra de ouro seja para outro rabino...

Ao que o rabino escondeu a barra de ouro dentro da camisola, rapidamente, e disse:

– Quem sou eu para ser a prova de que Deus se engana?

Perfumes

E tem a parábola do mendigo cego que todos os dias recebia uma esmola de uma mulher que passava, e que ele reconhecia pelo perfume. Cada dia um perfume diferente.

– Mmmm. Violeta – dizia o mendigo, depois de ouvir o tilintar da moeda no seu chapéu..

– Acertou – dizia a mulher.

No outro dia:

– Mmmm. Jasmim. Maravilha.

– Obrigada.

– Mmmmm. Rosa.

– Acertou de novo.

Todos os dias a mesma coisa.

– Mmmm. Lírio.

– Mmmm. Cravo.

– Mmmmm. Dracena.

Um dia a mulher disse ao mendigo que não tinha nenhuma moeda para lhe dar.

– Não importa – disse o mendigo. – Só o seu perfume de gardênia já me enche de prazer.

– Obrigada!

Até que um dia a mulher resolveu testar o mendigo. Perfumou-se de enxofre e amoníaco e despejou muitas moedas no seu chapéu. E o mendigo ouviu o tilintar das muitas moedas, aspirou fundo e exclamou:

– Mmmmm. Flor de laranjeira!

Decidido

(Da série “Poesia numa hora dessas?!”)

Encoste o ouvido num tronco

e ouça o sangue do mundo rodando.

Encoste o ouvido no chão

e ouça o mundo ronronando.

O mundo funciona sozinho

e com destino decidido.

Recolha-se ao seu cantinho

e, claro, limpe o ouvido.

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