Aqui voces encontrarão muitas figuras construídas em Fireworks, Flash MX, Swift 3D e outros aplicativos. Encontrarão, também, muitas crônicas de jornais diários, como as do Veríssimo, Martha Medeiros, Paulo Coelho, e de revistas semanais, como as da Veja, Isto É e Época. Espero que ele seja útil a você de alguma maneira, pois esta é uma das razões fundamentais dele existir.
segunda-feira, 12 de setembro de 2011
12 de setembro de 2011 | N° 16823
LUIZ ANTONIO DE ASSIS BRASIL
Cendrars
Constitui um enigma a obra do poeta e romancista suíço Blaise Cendrars (Frédéric-Louis Sauser), nascido em 1887 e morto em 1961. Impossível submetê-lo a uma escola ou, sequer, enquadrá-lo num dado momento cultural. Sua literatura é múltipla, “difícil” para o leitor descostumado a seu imaginário – apenas isso já é o suficiente para uma alentada exegese.
Blaise Cendrars diz muito ao Brasil. Ele entendeu nossa cordialidade. Apaixonou-se pelo país em decorrência das viagens que fez ao nosso país na década de 20 do século passado. Aqui não foi turista, mas dedicado observador; favoreceram-lhe os passos os amigos modernistas que, inclusive, arcaram com suas despesas. O investimento deu certo, porque Cendrars retribui-o em páginas candentes sobre o Brasil. Influenciou e foi influenciado pela geração da Semana de Arte Moderna.
A razão desta coluna é seu livro O Loteamento do Céu, publicado originalmente em 1949 e saído aqui pela editora Companhia das Letras, em bela tradução de Geraldo Holanda Cavalcanti. Formalmente pode ser considerada uma obra de memórias; sucede, porém, que se torna necessária certa dose de abertura intelectual para costurar seus retalhos.
A ficha catalográfica deixa uma imprecisão a ser decifrada pelo leitor, pois vai rotulada de biografia e de romance. E é justamente esse caráter epiceno que lhe dá a maior amplidão conceitual possível – e seu encanto.
O livro divide-se em três narrativas, cada qual tendo seu foco específico – mas isso não impede de haver marchas e contramarchas, elipses vertiginosas e perplexas anacronias, e conta com uma personagem, o próprio Cendrars, que narra sua biografia como se fosse uma personagem.
Haveria muito a dizer sobre cada qual dessas narrativas, mas havendo a necessidade da escolha, a segunda, A Torre Eiffel Sideral, merece destaque. Cendrars a dedica a Tarsila do Amaral. A cena de substância é na fazenda Morro Azul, apresentada a ele por Oswald de Andrade e Paulo Prado, situada a 250 km de São Paulo.
Seu originalíssimo proprietário vive a desilusão de um amor impossível por Sarah Bernhardt. Nem a descoberta de uma nova constelação, a da Torre Eiffel, o consola. Com esse mote comovente Cendrars erige o pobre homem à condição de metonímia da alma brasileira.
Cabe referir à tradução, exata, minuciosa e conotativa, à altura do texto original. É um encanto lê-la. Vale por um tratado de bem traduzir, e é uma estrada real para conhecer Cendrars.
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